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A semana da Páscoa se aproxima e a procura por doces só aumenta, no entanto, o preço também cresce. De acordo com levantamento da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn), os cobiçados ovos de chocolate estão até 18% mais caros este ano. Além disso, pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que no Brasil, o preço do ovo de Páscoa passou de R$ 56, em média, em 2021 para R$ 65 em 2022. Um aumento de 14,7%. O chocolate também teve alta de 13,9% nos últimos 12 meses. Frente à variação de preço, um outro ramo se fortalece no mercado: ovos de páscoa artesanais. Uma opção para quem quer sair do básico e valorizar o empreendedorismo local.
Uma das pessoas que transformou a vida desde o início da graduação foi Yasmin Alves, 23. Em 2018, fez brownies para vender nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). À medida que o tempo passou, o negócio também cresceu e ganhou o nome de Amora Doces. Hoje o período da Páscoa traz mais lucro. No entanto, com a variação do preço dos produtos, sentiu a necessidade de adotar estratégias para driblar a alta sem perder a qualidade.
Um dessas estratégias é buscar substitutos que tenham a mesma qualidade. Contudo, nem sempre é possível, como é o caso do leite condensando – um dos principais itens da confeitaria. “O leite condensado hoje a gente encontra um substituto que é a mistura láctea, mas não é um leite condensado. Se a gente for usar aquilo para fazer os doces, os ovos de páscoa, não vai ter a mesma qualidade”, comenta.
Estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) mostra que o leite condensado – um dos principais insumos na hora de produzir os ovos artesanais – aumentou cerca de 32,6% a mais do que 2021, em dezembro do ano passado. Contudo, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a expectativa é que o mercado lácteo apresente melhora ainda este ano.
Enquanto isso, a alternativa é pesquisar os preços em diversos lugares e variar na hora que escolher os fornecedores, mesmo que os preços variem e tornem difícil a escolha de produtos de boa qualidade, de acordo com a estudante. “Cada vez mais que a gente busca fornecedor, busca o supermercado, a gente percebe esse aumento gritante e é meio que um malabarismo a situação que a gente se encontra”, comenta a confeiteira. Estudar a margem de lucro para conseguir o oferecer o produto final em um preço razoável para o consumidor, além de garantir a competitividade dentro do mercado é algo a ser ajustado diariamente. “Ao mesmo tempo conseguir manter um preço razoável para venda, porque a gente sabe que se botar um preço muito alto, infelizmente, a procura não vai ser tão grande”, complementa.
Uma mudança que não só a afeta, mas influencia no negócio de todas as pessoas que trabalham na área. “Minhas amigas da área da confeitaria também tem sofrido e notado essas mudanças drásticas”, diz. Mesmo assim, o segmento se mantém firme e tentam combinar os valores entre si, de maneira que não haja discrepância.
Este ano, o cardápio está mais enxuto, com opções de tamanho em 400g e 500g. O valor médio é de R$ 70 reais, com aposta em sabores diferentes como o de pistache, lançado este ano. Já o de creme brulée, inspirado na sobremesa francesa parecida com pudim, é um dos mais pedidos.
Opções de lembrancinhas mais baratas com ovos menores também foi uma estratégia adotada para atrair aqueles que gostam de presentear as crianças da família. No cardápio, o trio de ovos de 500g no total custa R$ 85, com a possibilidade de presentear mais de uma pessoa. O corporativo vem com unidades de 200g a R$ 33 cada. Há ainda um desconto progressivo para encomendas em grandes quantidades.
Dentre os métodos, um dos mais efetivos é o boca a boca, diz. Isso acontece quando os próprios clientes divulgam o trabalho por terem gostado do produto. E tem de todo tipo, brigadeiro tradicional, de baunilha com geleia artesanal de frutas vermelhas, doce de leite e mais. Quem é amante de doce consegue ter uma gama de opções.
A empresa de Yasmin é tocada por ela junto com sua mãe. O início foi em 2018, quando vendia doces na faculdade de Jornalismo. A princípio seria algo para complementar as horas livres, no entanto, o negócio cresceu. “No começo eu pensei ‘por que não fazer isso? De maneira despretensiosa”, conta.
Ao longo do tempo, estudou mais sobre confeitaria e se especializou em bolos festivos. O brownie se tornou um entre outros produtos. Bolos, doces de festas e ovos de páscoa. Logo, as vendas ultrapassaram os muros da universidade e hoje atende clientes em toda a Natal. Esta semana começa o período mais intenso de vendas, por conta da Páscoa.
Ovos de páscoa feitos com frango, palmito e camarão
A Páscoa também é momento de inovar para agradar a variados paladares. o doce pode dar lugar ao salgado sem perder a tradição. Foi nisso que a dona de casa Iraci Belarmino, 63, pensou ao produzir ovos de páscoa salgados, que ganham atenção dos natalenses. Tem de vários sabores, como camarão, frango e palmito. A casca é feita com massa de coxinha ou massa de empada e na decoração é colocado requeijão e até bacon.
A iniciativa surgiu depois que seu filho a mostrou algumas fotos desses salgados em 2021. Então, decidiram implementá-los no Delícias Caseiras da Irá, pois dona Iraci já era apaixonada por cozinha e trabalhava com salgados de festa. Foi só colocar o talento para funcionar. Ela conta que adora passar tempo na cozinha e tem prazer em saber que as pessoas gostam de sua comida. “O prazer que eu tenho de cozinhar é saber que as pessoas vão comer com gosto”, comenta.
A produção atingiu seu máximo este final de semana. Em dias cheios, são entregues até 20 pedidos. Quando começou, pensava que iria vender apenas 50 unidades, mas o negócio a surpreendeu e foi a venda foi 3x maior do que o esperado. Seu filho, o jornalista Diego Breno, 35, a ajuda na divulgação dos produtos nas redes sociais. Com o auxílio um do outro, o empreendimento conquistou seu espaço em Natal.
Contudo, no mesmo ano em que começou as vendas, descobriu um tumor ósseo no fêmur, logo quando tinha pego o ritmo da produção. Passou meses sem conseguir fazer atividades básicas sozinha. Conta que o que mais sentiu falta foi de fazer comida para a família. “Quando adoeci, eu senti falta de vir para a cozinha fazer minha comida”, conta.
Atualmente, caminha com auxílio de moleta, mas não deixa de fazer o que gosta. Ela atende toda a cidade, mas como os pedidos foram tantos esse ano, o tempo para encomendas já foi fechado. Dona Iraci também faz sucesso nas redes sociais ao mostrar os salgados não convencionais que produz. Também tem salgado em formato de bolo e até panetone de camarão. Ainda faz doces, como bolos de festa, mas os salgados ganham cada vez mais espaço.
Os tamanhos também são não convencionais. Ovo de páscoa tem até de 1kg no valor médio de R$ 75. Os de 500g estão por volta de R$ 65. O mais caro é o de camarão, custando R$ 130 por 1kg. “A gente recheia dependendo do pedido do cliente. Geralmente pedem de palmito, frango, camarão. A procura é grande. Todo ano agora estou fazendo, porque a demanda é boa, graças a Deus”, conta.
Pretende continuar com o trabalho o quanto puder, mesmo com as dificuldades físicas. Desde a infância exerce esse trabalho sem intenção de parar tão cedo. Busca levar alegria à mesa de seu cliente, da mesma forma que se alegra ao cozinhar para o próximo. Com bom humor e dedicação. “Cozinha é meu fraco. Desde os 12 anos que eu cozinho e é o que eu gosto de fazer”, finaliza.
Créditos: Tribuna do Norte.