A trajetória de Javier Milei, da condição de outsider agressivo à chefia de um governo com ampla base legislativa, tornou-se um dos episódios políticos mais comentados da América do Sul em 2025. Em pouco mais de um ano, o presidente argentino saiu do isolamento parlamentar para comandar a maior bancada da Câmara dos Deputados, alterando o equilíbrio de forças em Buenos Aires e reposicionando a Argentina no tabuleiro internacional, em um processo que combina fatores internos, alianças improváveis e o peso decisivo dos Estados Unidos.
Como ocorreu a virada de jogo de Javier Milei nas eleições legislativas?
A chamada virada de jogo de Milei consolidou-se nas eleições legislativas de outubro, quando muitos analistas projetavam um revés ou, no máximo, uma vitória apertada. O resultado foi uma vitória ampla, que surpreendeu até o próprio governo e reposicionou por completo a correlação de forças internas no Congresso argentino.
O LLA, que era a terceira força na Câmara, saltou para a condição de maior bancada, com 95 deputados em um total de 257, e presença mais robusta no Senado. Dias antes da posse, quatro parlamentares opositores migraram para a legenda governista, reforçando a base aliada e oferecendo a Milei uma margem mais confortável para negociar sua agenda legislativa.
Como Milei chegou à liderança no Congresso?
Durante a campanha presidencial de 2023, Milei construiu sua imagem atacando a chamada “casta política”, termo usado para criticar partidos tradicionais e lideranças consolidadas. Naquele momento, seu partido, A Liberdade Avança (LLA), ocupava apenas duas cadeiras na Câmara: a dele próprio e a de sua futura vice, Victoria Villarruel, o que reforçava sua imagem de outsider.
Na cerimônia de abertura do novo ciclo legislativo, Milei apareceu no Congresso aplaudindo e gritando “a casta está com medo”, ao lado da irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei. A cena sintetizou o contraste entre o discurso de confronto com o establishment e a celebração do controle de uma fatia expressiva da própria instituição que ele criticava.
Qual foi o papel dos Estados Unidos na ascensão de Javier Milei?
Outro elemento central na virada de jogo de Milei foi o envolvimento direto de Donald Trump e do governo americano na eleição argentina, especialmente por meio de apoio político e articulações diplomáticas. Segundo relatos de fontes e diplomatas em Buenos Aires, esse suporte não se restringiu ao campo simbólico, mas incluiu socorro financeiro em um momento de forte pressão econômica.
Esse apoio foi determinante para garantir fôlego ao governo em meio à crise, reduzindo o risco de colapso fiscal imediato e ajudando a manter obrigações básicas do Estado. Em um contexto de inflação elevada e falta de recursos internos, grande parte do eleitorado priorizou a estabilidade mínima e a continuidade dos pagamentos, relativizando o debate sobre autonomia geopolítica diante da necessidade econômica.
Como o alinhamento com os Estados Unidos afeta a economia argentina?
O alinhamento com Washington trouxe benefícios de curto prazo, permitindo ao governo sustentar políticas de contenção inflacionária e evitar uma deterioração ainda maior dos serviços públicos. Ao mesmo tempo, ampliou a margem de manobra de Milei para negociar reformas econômicas e consolidar o poder no Congresso em meio à crise social.
Essa relação, porém, criou novas vulnerabilidades ao tornar a Argentina mais exposta a mudanças de humor político e financeiro nos Estados Unidos. Eventuais alterações na política externa americana ou no cenário internacional podem afetar diretamente a capacidade do país de sustentar seu atual modelo de financiamento e de estabilização macroeconômica.
Como as mobilizações sociais reagem ao fortalecimento do governo Milei?
Nas ruas, a percepção sobre o governo está menos voltada à coerência retórica e mais ao impacto econômico imediato na vida das pessoas. Enquanto Milei comemora sua melhor fase política no Congresso, diversos setores organizados mantêm forte mobilização, dando continuidade à tradição argentina de protestos frequentes e pressão sobre o poder público.
Entre os grupos que seguem em marcha semanalmente, cobrando remunerações dignas e melhores condições de trabalho, destacam-se:
- Aposentados, que exigem recomposição de benefícios corroídos pela inflação.
- Pessoas com deficiência, reivindicando proteção social e acesso a serviços.
- Trabalhadores da saúde e educadores, em defesa de salários e estrutura adequada.
- Servidores públicos, que denunciam perda de poder de compra e cortes orçamentários.
FAQ sobre a virada de jogo de Milei
- Qual foi o ponto de partida de Milei na política nacional? Milei iniciou sua projeção nacional como deputado e economista liberal, com forte presença midiática e discurso de ruptura com os partidos tradicionais.
- Como a população reagiu ao grito “a casta está com medo”? O gesto repercutiu de forma dividida: parte da sociedade viu como reafirmação do discurso anticasta, enquanto outra parte destacou a contradição entre a fala e o novo poder acumulado no Congresso.
- Karina Milei tem influência no núcleo de poder? Sim. Como secretária-geral da Presidência e figura próxima ao presidente, ela integra o núcleo central de decisões políticas e estratégicas do governo.
- A marcha dos aposentados continua relevante no cenário político? As manifestações semanais de aposentados seguem como lembrete constante das demandas sociais, mantendo pressão pública sobre o governo em temas de renda e proteção social.
