O novo contato telefônico entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizado nesta terça (2/12), recolocou em evidência dois temas sensíveis na relação entre Brasil e Estados Unidos: o tarifaço sobre produtos brasileiros e a atuação do crime organizado internacional, em meio a uma reaproximação diplomática marcada por negociações comerciais e cooperação em segurança.
Como os produtos brasileiros são afetados pelo tarifaço de Trump?
Segundo informações da CNN, o principal ponto da conversa foi o tarifaço de 40% aplicado pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos brasileiros. Segundo a Secretaria de Comunicação Social (Secom), Lula agradeceu a Trump pela retirada da sobretaxa sobre parte desses itens, citando diretamente carne, café e frutas.
Ainda assim, outros produtos seguem sob forte taxação, especialmente bens de maior valor agregado e segmentos industriais. Lula reforçou a intenção de acelerar negociações, defendendo que tarifas altas prejudicam exportadores brasileiros e também consumidores norte-americanos, que enfrentam preços maiores e menos opções de fornecimento.
Quais são os próximos passos nas negociações comerciais entre Brasil e EUA?
Na prática, o debate sobre o tarifaço envolve interesses de diversos setores do agronegócio e da indústria, pressionando por previsibilidade e redução de custos. A expectativa é que grupos técnicos dos dois países avancem em rodadas de diálogo nos próximos meses, priorizando produtos com maior impacto sobre exportações e empregos.
Essas equipes deverão trabalhar de forma coordenada para mapear gargalos e propor soluções graduais, alinhando as negociações a acordos multilaterais já existentes e às demandas internas de ambos os governos. Entre as ações esperadas estão:
- Mapear todos os produtos brasileiros ainda sujeitos à sobretaxa;
- Mensurar o impacto econômico das tarifas para exportadores;
- Negociar reduções graduais ou isenções em setores estratégicos;
- Aproximar agendas comerciais de acordos multilaterais vigentes.
Como Lula e Trump planejam enfrentar o avanço do crime organizado?
Outro ponto central da ligação foi o avanço do crime organizado internacional além das fronteiras brasileiras. Lula relatou operações recentes conduzidas por órgãos federais para asfixiar financeiramente facções e grupos criminosos, que utilizam estruturas no exterior e redes de intermediação financeira complexas.
O tema ganhou força após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o uso de supostos paraísos fiscais em território norte-americano para viabilizar uma “triangulação internacional gravíssima” de lavagem de dinheiro. Em uma operação da Receita Federal, foi identificado um esquema de sonegação com potencial prejuízo superior a R$ 26 bilhões, tendo o Grupo Refit como um dos principais alvos.
Que tipo de cooperação financeira Brasil e EUA pretendem ampliar?
Nesse contexto, Lula defendeu ampliar a cooperação com os Estados Unidos em inteligência financeira, rastreamento de ativos e troca de informações bancárias. A ideia é tornar mais ágil o monitoramento de transações suspeitas, especialmente quando envolvem múltiplas jurisdições e estruturas societárias opacas.
Conforme o comunicado oficial, Trump manifestou “total disposição” em trabalhar em conjunto com o Brasil e apoiar iniciativas coordenadas contra essas organizações, prevendo maior integração entre agências de ambos os países e fortalecimento de mecanismos já existentes de cooperação internacional.
Como a nova ligação pode impactar as relações?
A conversa se insere em um processo gradual de reaproximação diplomática entre Lula e Trump, após contatos discretos iniciados na Assembleia Geral da ONU e encontros paralelos em eventos multilaterais. Esses movimentos sinalizam uma tentativa de reduzir tensões e construir uma agenda pragmática focada em comércio e segurança.
Não houve menção, no comunicado oficial, a temas sensíveis como a aplicação da Lei Magnitsky a autoridades brasileiras ou suspensão de vistos, o que indica preferência momentânea por reduzir atritos públicos. A sinalização de que “voltariam a conversar em breve” reforça a construção de um canal político mais estável entre os dois governos. Para o setor produtivo, o desfecho das negociações sobre o tarifaço pode afetar diretamente exportações, investimentos e geração de empregos, especialmente em cadeias integradas ao mercado norte-americano. Reduções tarifárias e maior previsibilidade podem estimular novos contratos, ampliando a participação de produtos brasileiros em nichos de maior valor agregado.
FAQ sobre a nova conversa entre Lula e Trump
- Por que o telefonema não estava na agenda oficial de Lula? A ligação foi descrita como uma iniciativa do próprio governo brasileiro, articulada de forma reservada. Contatos sensíveis podem ser mantidos fora da agenda pública para evitar ruídos políticos e dar mais flexibilidade às negociações.
- Quais setores brasileiros podem ser mais beneficiados com a revisão do tarifaço? Setores ligados ao agronegócio, como carne, café e frutas, já foram favorecidos. Indústrias de alimentos processados, manufaturados e produtos de maior valor agregado tendem a ser os próximos interessados em reduções tarifárias.
- O que é a “triangulação internacional gravíssima” citada por Fernando Haddad? A expressão descreve um esquema em que recursos de origem suspeita circulam por empresas, contas ou estruturas em diferentes países, incluindo paraísos fiscais, para ocultar a origem do dinheiro, reduzir impostos e dificultar o rastreamento.