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O promotor de Justiça de São Paulo Lincoln Gakiya afirmou que a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a operação da PF (Polícia Federal) para desarticular o plano do PCC (Primeiro Comando da Capital) contra autoridades ter sido uma armação do senador Sergio Moro (União Brasil -PR) “ofende” a ele e ao MP (Ministério Público).
“A gente não serve ao governador, nem ao procurador-geral. As polícias também. Eu não posso entender, qualquer que seja o presidente, seja Bolsonaro ou Lula, utilizarem, às vezes, a ‘minha’ polícia. A polícia é do Estado. Isso me deixa muito constrangido quando se tenta usar a polícia para fins políticos […] Falar que a polícia inventou essa operação, está ofendendo a mim e ao Ministério Público”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicou neste sábado (25).
Segundo Gakiya, a fala de Lula “é a desorganização do Estado”.
O promotor, que atua no combate ao crime organizado, afirmou ainda que a exploração do crime organizado por parte de políticos para atacar adversários “atrapalha demais e prejudica” o combate à prática ilegal.
“O próprio crime organizado assiste de camarote esses casos. São Paulo não transferia lideranças do PCC para o sistema penitenciário federal para não parecer que o Estado não tinha capacidade de conter os presos. Estes sabiam que nunca seriam mandados para o sistema federal por razões políticas. A distância entre os presídios federais era importante para desarticular a comunicação dos detentos“, afirmou.
Gakiya também demonstrou apoio ao projeto apresentado por Moro no Senado que criminaliza o planejamento de atentados contra autoridades e defendeu a revisão da Lei de Execuções Penais, com a adoção de “forma diferenciada de cumprimento de pena para as lideranças de facções”.
“Temos uma facção que começou dentro do sistema. Isso faz com que muitos crimes sejam ainda comandados das unidades prisionais. É preciso rever a Lei de Execuções Penais. Marcola [líder do PCC] já cumpre 340 anos. O que um novo processo pode acrescentar à situação dele? Nada. Temos uma organização que tem 100 indivíduos importantes entre 600 mil presos no país. O integrante de organização não deve ter benefício”, disse.
OPERAÇÃO
Na 4ª feira (22.mar), a PF realizou uma operação para desarticular o grupo criminoso que planejava ataques contra as autoridades. Segundo a corporação, os criminosos acompanhavam de perto os alvos para levantar as informações sobre as vítimas.
Eis o que se sabe até agora:
- alvos – autoridades e funcionários públicos, como o promotor Gakiya;
- Sergio Moro – o senador e sua família estariam entre os alvos;
- mandados sendo cumpridos – 4 de prisão temporária, 7 de prisão preventiva e 24 de busca e apreensão. Nove pessoas já foram presas;
- operação realizada em 4 Estados – Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná;
- crimes planejados – homicídios e extorsão mediante sequestro; seriam realizados em SP e no Paraná.
LINCOLN GAKIYA
O promotor Lincoln Gakiya entrou no Ministério Público em 1991. É integrante do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e responsável por investigar o PCC, considerada a maior organização criminosa do país.
“O PCC não existia [em 1991]. Em 1992, fui para Presidente Bernardes [SP]. Tinha 24 anos. Logo peguei uma rebelião no presídio. Participei das negociações e entrei com a tropa de choque. Em 1996, fui para Presidente Venceslau. Em 2006, a cúpula do PCC foi removida para a cidade”, disse.
Ao Estadão, afirmou que recebeu a 1ª ameaça de morte PCC em 2005. “Ofereci uma denúncia contra presos da sintonia do PCC do interior e tive a ousadia de pedir a internação dos que comandavam essa célula no regime disciplinar diferenciado, o que não era comum. A 1ª ordem para me matar veio desse pedido. A partir daí, fui escoltado porque havia uma ordem do PCC para me matar. Eu não entendi nada”, declarou.
Poder 360