Um equívoco bancário envolvendo uma transferência via Pix levou a Justiça do Rio de Janeiro a bloquear mais de R$ 318 mil. O montante, enviado pela TV Globo em setembro de 2021, deveria ter sido destinado ao advogado de um ex-funcionário da emissora. No entanto, devido a falhas internas, o dinheiro acabou sendo transferido a um outro profissional, sem ligação com o processo original.
Como o erro foi identificado?
A quantia milionária fazia parte de um acordo trabalhista firmado pela emissora. Durante o cumprimento do pagamento, os setores jurídico e financeiro utilizaram dados bancários de forma equivocada. O advogado que recebeu o valor havia atuado em outro processo e não tinha qualquer relação com o caso em questão.
Ao perceber o engano, a Globo solicitou o estorno imediato ao banco, mas a solicitação foi negada. O motivo: o valor já havia sido movimentado pelo destinatário.
Qual foi a reação do advogado que recebeu o Pix?
Em vez de devolver a quantia, o profissional informou que utilizou o valor como parte de um contrato de compra de imóvel. A emissora, então, acionou a Justiça para recuperar o dinheiro por meio de ação cautelar.
Decisão judicial determinou bloqueio imediato dos recursos
O caso foi analisado pela 4ª Vara Cível da Barra da Tijuca. O juiz responsável, Luiz Felipe Negrão, determinou o bloqueio dos R$ 318.600,40. Também ficou proibida qualquer tentativa do réu de concluir a aquisição do imóvel ou de ceder seus direitos sobre o contrato de compra e venda até a conclusão do processo.
De acordo com a decisão, o juiz entendeu que o advogado não tem patrimônio suficiente para garantir a restituição futura e que a apropriação rápida dos valores colocaria em risco o desfecho justo da ação.
Entendimento jurídico: erro não configura doação
Na sentença, foi reforçado que a transferência incorreta não representava qualquer forma de pagamento legítimo. Tratou-se de um erro material e, portanto, o valor deveria ser devolvido à parte que o enviou de forma equivocada.
O juiz também considerou o risco de dilapidação do valor e entendeu que a retenção dos recursos era necessária para assegurar o direito de reembolso à Globo. A tentativa do advogado de aplicar os recursos imediatamente na compra de um bem foi vista como uma ação que poderia comprometer a recuperação do valor.
O que diz a lei sobre valores recebidos por engano?
Com o crescimento de transferências digitais, especialmente via Pix, casos de valores enviados a destinatários errados têm se tornado mais frequentes. Segundo o entendimento predominante na Justiça brasileira, valores recebidos de forma indevida devem ser devolvidos prontamente. A retenção intencional desses montantes pode configurar enriquecimento sem causa, sujeito a consequências civis e até criminais.
Erros financeiros exigem resposta rápida e transparente
Este episódio evidencia não só as vulnerabilidades dos sistemas de pagamento automatizados, mas também os dilemas legais que surgem quando um valor é movimentado de forma indevida. A decisão judicial, nesse caso, buscou impedir prejuízo irreparável e garantir a restituição dos recursos.
O processo segue em andamento, mas a medida de bloqueio foi adotada para preservar o direito da parte que transferiu o valor por erro técnico. Casos como esse mostram a importância de conferência rigorosa em transações financeiras e da postura ética diante de equívocos bancários.