Em um cenário internacional cada vez mais complexo e polarizado, o Senado brasileiro deu um passo controverso ao aprovar a criação de um grupo de cooperação parlamentar com a Rússia. A proposta foi formalizada pela Comissão de Relações Exteriores, com o objetivo de desenvolver a diplomacia entre os dois países. A iniciativa cria um terceiro espaço no qual parlamentares podem discutir temas de interesse mútuo e promover trocas culturais, apesar das tensões geopolíticas que envolvem a Rússia após sua invasão à Ucrânia em 2022.
A votação, ocorrida nesta terça-feira (14/10), foi marcada por diversas oposições. Entre os que não concordaram com a decisão estão os senadores Hamilton Mourão e Tereza Cristina. Mourão, conhecido por sua postura crítica em relação às políticas externas russas, destacou que o envolvimento do Brasil com parlamentares de uma nação que promove uma “guerra de conquista” representa um atentado contra a ordem internacional. Já Tereza Cristina, presidindo a comissão no dia da votação, classificou o conflito na Ucrânia como uma guerra sem sentido, reiterando seu voto contrário.
Como funciona o grupo parlamentar Brasil-Rússia?

Sistemas de grupos parlamentares entre países não são novidade e surgem como uma ferramenta para promover a diplomacia entre nações. Em essência, esses grupos destinam-se a ampliar o diálogo político e cultural, contribuindo para a geração de estudos e estimulando a troca de informação e conhecimento entre os envolvidos. Essencialmente, buscam fortalecer laços comerciais e políticos sem, contudo, ter a capacidade de influenciar diretamente a política externa, que é de alçada do Poder Executivo. A controvérsia reside no fato de os principais integrantes do grupo russo serem alvo de sanções internacionais.
- Natureza e objetivo: grupo suprapartidário composto por senadores e deputados, voltado à diplomacia parlamentar entre Brasil e Rússia.
- Coordenação: presidido por um parlamentar designado pelo Senado; a vice-presidência e secretaria podem ser ocupadas por outros membros do Congresso.
- Função diplomática: atua como canal informal de diálogo com o Parlamento russo e autoridades do país, complementando a diplomacia oficial conduzida pelo Itamaraty.
- Atividades principais: promoção de reuniões bilaterais, missões oficiais, intercâmbio técnico e debates sobre temas de interesse mútuo, como energia, agricultura e defesa.
- Caráter institucional: não tem poder decisório sobre políticas externas, mas influencia agendas de cooperação e aproximação legislativa.
- Composição: aberta à adesão de parlamentares de diferentes partidos, reforçando o caráter de cooperação e não de disputa política.
- Resultados esperados: ampliação de laços econômicos e políticos, estímulo a novos acordos bilaterais e fortalecimento da presença brasileira em fóruns internacionais ligados à Rússia.
Quais são as implicações econômicas e políticas do grupo?
A relação Brasil-Rússia é, em muitos aspectos, uma continuação da histórica cooperação comercial que os dois países mantêm. Com o Brasil despontando como o segundo maior comprador de óleo diesel russo em 2024, atos de diplomacia parlamentar como esse podem facilitar o fluxo comercial e destravar negociações futuras. O senador Marcos Pontes, que já colaborou com a Rússia em sua jornada espacial, votou a favor da criação do grupo, destacando que, embora discorde da compra de óleo diesel russo, acredita que as relações comerciais são fundamentais.
Críticos como o senador Petecão, relator do projeto, reconhecem os desafios morais e políticos dessa parceria, mas destacam que “o Brasil é um país democrático e, logo, deve estar aberto a conversas que sustentem o crescimento econômico e promovam a paz, mesmo diante de diferenças políticas e éticas” com a Rússia.
Como a diplomacia parlamentar pode influenciar os conflitos?
Embora grupos parlamentares não tenham a capacidade de interferir diretamente em políticas exteriores ou decisões do governo, sua formação e atividades refletem intenções diplomáticas que podem ter impactos sutis em como as nações e seus políticos são percebidos globalmente. A criação do grupo Brasil-Rússia, em particular, pode ser interpretada como um movimento para suavizar a imagem internacional da Rússia. Moscou, sob o comando de Vladimir Putin, busca construir alianças que possam contrabalançar as críticas e sanções provocadas por suas ações na Ucrânia.
Em paralelo, esse tipo de diplomacia pode fortalecer a posição do Brasil em fóruns internacionais, apresentando-o como um mediador capaz de dialogar com diferentes nações, mesmo com aquelas que estão em oposição às políticas de grande parte da comunidade internacional.

FAQ sobre o Grupo Parlamentar Brasil-Rússia
- Por que o Brasil decidiu formar um grupo parlamentar com a Rússia? O grupo foi formado para intensificar a diplomacia parlamentar entre os dois países através do desenvolvimento de estudos, seminários e encontros políticos.
- Quem propôs a criação do grupo Brasil-Rússia? A proposta foi feita pela senadora Dra. Eudócia, do PL de Alagoas, e relatada pelo senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
- A criação do grupo parlamentar significa que o Brasil apoia as ações da Rússia na Ucrânia? Não necessariamente. A formação do grupo visa principalmente fortalecer relações comerciais e culturais, não um endosso formal às políticas externas russas.