Foto: Liu Bin – 3.jan.23/Xinhua.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende dobrar a aposta na viagem do presidente à China, contrapondo uma ampla agenda em Pequim à falta de resultados concretos da visita a Washington.
Lula realiza no fim deste mês uma viagem de quatro dias ao país asiático, na qual deve se encontrar com o presidente Xi Jinping e buscar negócios e parcerias para o Brasil. A expectativa é que o petista seja acompanhado de uma grande comitiva de empresários, tanto do setor industrial como da agricultura.
A dimensão da empreitada contrasta com a agenda de apenas um dia na capital dos EUA, no início de fevereiro. Na ocasião, Lula foi recebido pelo presidente americano, Joe Biden, o que interlocutores no governo brasileiro apontam ter sido importante para a inserção geopolítica do petista em seu terceiro mandato. O encontro com Biden ainda cumpriu o objetivo de selar uma agenda de esquerda conjunta.
Por outro lado, houve poucos avanços no sentido de parcerias efetivas entre os dois países, como assinaturas de convênios e promessas de investimentos. A esperada doação para o Fundo Amazônia não se concretizou, e o valor aventado —chegou-se a falar em US$ 50 milhões (cerca de R$ 260 milhões)— frustrou o governo brasileiro.
Em viagem ao Brasil semanas após o encontro entre Lula e Biden, o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, afirmou que o governo americano segue comprometido com o fundo, mas não citou valores.
Questionado por jornalistas sobre eventual aporte, Kerry citou dois projetos de lei em tramitação na Câmara e no Senado do seu país que preveem um total de US$ 13,5 bilhões (cerca de R$ 70 bilhões) a serem usados para mitigar e combater o aquecimento global e outros problemas climáticos.
Esse valor engloba, no entanto, iniciativas em todo o mundo, inclusive dentro dos EUA. E mesmo assim, Kerry afirmou que aprovar as medidas seria “uma luta”, e que por isso outras soluções de financiamento estavam sendo buscadas.
Decepcionado com o resultado da ida a Washington, Lula pretende usar a viagem a Pequim para atender dois objetivos. O primeiro deles é voltar a estreitar as relações com o asiático comunista.
Além disso, o governo tenta pressionar os americanos a oferecerem novas parcerias de investimento, comércio e cooperação. De acordo com assessores, a ideia é levar os americanos a “colocarem a mão no bolso”.
EUA e China —as duas maiores potências econômicas do mundo— protagonizam hoje uma ampla disputa geopolítica. Uma das preocupações dos americanos é a crescente influência chinesa em regiões como a América Latina.
Lula pretende levar ao país asiático uma grande comitiva, com ministros, técnicos e empresários. Além das reuniões com autoridades brasileiras e chinesas, um seminário organizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China está marcado para o período.
O próprio caráter empresarial da visita a Pequim contrasta com a agenda em Washington. Nos EUA, Lula não teve encontros com empresários e, além de Biden, reuniu-se com a ala mais à esquerda do Partido Democrata e com uma central sindical americana.
Como precisa substituir Lula no Brasil, atuando como presidente em exercício, o vice-presidente Geraldo Alckmin não deve ir à China. As articulações empresariais estão centradas, porém, na pasta sob seu comando, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que trabalha com o objetivo de atrair investimentos ao Brasil e também fechar parcerias que tragam a produção de bens para o país.
Há a perspectiva de um anúncio de parceria por parte da Embraer, tema que vem sendo tratado de modo reservado pelos brasileiros.
A viagem promete ser ainda uma prova de fogo para a reconciliação do governo brasileiro com o agronegócio. Amplos segmentos do setor apoiaram Bolsonaro nas eleições de outubro.
Um dos pontos importantes da viagem será a assinatura de novo contrato de cooperação para pôr em órbita o satélite Cbers-6. Trata-se da nova fase da cooperação aeroespacial sino-brasileira, que já lançou outros satélites em conjunto.
Créditos: Folha de S. Paulo.