Os médicos ainda não conseguem entender por que Abby Fender desenvolveu a condição, chamada de síndrome do sotaque estrangeiro
Uma mulher de 39 anos, moradora do Texas, nos Estados Unidos, acordou de uma cirurgia de hérnia de disco com uma surpresa: o seu sotaque sulista havia sido substituído por um sotaque russo, mesmo ela nunca tendo estado lá.
Abby Fender foi diagnosticada com síndrome do sotaque estrangeiro. Segundo um estudo publicado na Sociedade Brasileira de Infectologia em 2020, “é um distúrbio motor da fala raro em que o paciente passa a apresentar um sotaque diferente da língua nativa. O sotaque estrangeiro pode vir acompanhado ou não de outros distúrbios da fala/linguagem, como disartria, afasia e apraxia da fala”.
Segundo Abby, o primeiro sinal de que algo havia acontecido apareceu logo após o procedimento.
“Acordei da minha cirurgia e imediatamente soube que algo estava muito errado com a minha voz, já que não conseguia falar com nenhum volume”, lembrou ao site britânico Daily Mail.
Quando a fala começou a aparecer novamente, ela estava com uma novidade não tão agradável.
“Logo, comecei a sentir o tom da minha voz ficar muito alto, e nós o chamamos de ‘voz da Minnie Mouse russa’, em que eu soava como um personagem de desenho animado o tempo todo”, contou.
A síndrome do sotaque estrangeiro tem intrigado neurologistas e especialistas em fala de todo o mundo.
A explicação mais plausível para o quadro é que a condição é o resultado de danos na região central do cérebro, responsável pela fala — área também chamada de broca.
A broca fica no lobo frontal, em um local crucial para a articulação de ideias e o uso de palavras (na linguagem escrita e falada).
Segundo o Daily Mail, a condição acontece mais frequentemente em mulheres e, comumente, após um AVC (acidente vascular cerebral). Também pode ocorrer como resultado de distúrbios de desenvolvimento ou psicológicos, traumas ou tumores.
Os principais sintomas são mudanças na pronúncia de palavras e dificuldade para falar sons que exijam o toque da língua atrás dos dentes superiores, como T ou D.
No caso de Abby, no entanto, não houve nenhuma lesão cerebral e ainda não se sabe a causa específica da condição, mas os desafios continuam. Hoje, após superar a “voz da Minnie Mouse russa”, ela tem sotaque australiano.
A situação, de forma geral, é difícil, já que a americana era cantora profissional antes do ocorrido. Ela conseguiu equilibrar o tom de canto e relaxar o pescoço para voltar à voz natural, com a ajuda de um fonoaudiólogo, mas os problemas não foram completamente eliminados.
“Estou começando a me sentir bem com tudo, mas é claro que minha mudança mais recente despertou sentimentos inesperados de medo e constrangimento. Não gosto de não estar no controle nem de saber como vou soar”, relatou Abby.
A incerteza e o receio durante as interações sociais são sensações que ela tem de enfrentar cotidianamente, mesmo não querendo. Mentir sobre o seu país de origem tornou-se comum.
“Não quero mentir sobre de onde sou, mas às vezes faço isso porque é mais fácil. Toda vez que faço isso, sinto que estou negando quem realmente sou, e isso não é bom, mas me perguntam ‘de onde você é?’ pelo menos dez vezes por dia”, disse.
E acrescentou: “Lembro-me de uma vez que disse que era ucraniana, e a outra pessoa começou a falar comigo em sua língua nativa. Eu não tinha ideia do que fazer, então tive que confessar”.
Toda essa instabilidade e ansiedade, por não ter controle sobre a própria voz, levaram Abby a classificar os novos desafios como “muito assustadores.”
No Instagram, a americana desabafou: “Síndrome do sotaque estrangeiro não é quem eu sou, mas algo que aprendi a aceitar. Sempre vou procurar respostas e tentar entender por que tenho esse distúrbio neurológico.”
R7