Foto: Dida Sampaio
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, recebeu nesta quinta-feira, 2, uma mensagem do coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, reclamando do que chama de “perigosas indicações” do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para o Conselho de Administração (CA) da Petrobras. Gleisi não gostou da atitude de Silveira, que derrubou as sugestões feitas pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, para compor o colegiado e substituiu todos os nomes por apadrinhados do Centrão.
No texto, Bacelar diz que, se essa situação não mudar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perderá o controle da empresa. O sindicalista pede que a deputada consiga uma agenda com Lula na próxima semana, para discutir o assunto. “Por favor, cava um espaço na agenda do Presidente Lula, no dia 10/03, pra eu conversar com eles sobre essas perigosas indicações do MME para o CA da Petrobras!”, afirma Bacelar. “Não são pessoas nossas, o Presidente não terá o controle do CA e temos bons nomes já apresentados a ele pra substituir os 4 ou 3 deles!”
A mensagem recebida por Gleisi no celular, pelo aplicativo WhatsApp, foi fotografada quando ela estava na cerimônia de relançamento do Bolsa Família, no Palácio do Planalto. O nome do coordenador-geral da FUP aparece no telefone da presidente do PT grafado como “Deyvid Petroleiro”.
Foto: Estadão
Em entrevista à coluna de Guilherme Amado no portal Metrópoles, Gleisi criticou Silveira por ter escolhido indicados pelo Centrão para o conselho da Petrobras. “Ele (Alexandre Silveira) é o ministro de Minas e Energia. Ele não pode colocar um conselheiro que seja contra o que o presidente falou na campanha. Estelionato eleitoral não pode, não”, disse Gleisi. “Os indicados do governo têm que seguir o governo. Isso vai ser um problema do ministro”.
Na lista dos preteridos por Silveira estão o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, e o economista Eduardo Moreira. As indicações para a Petrobras foram divulgadas na terça-feira, 28, no rastro da polêmica sobre a volta da cobrança de impostos dos combustíveis e ainda precisam passar pelo crivo do comitê interno da empresa. Além disso, devem ser submetidas à votação de uma assembleia-geral ordinária, em abril.
Em nota, o coordenador-geral da FUP disse que, dos sete nomes indicados para o colegiado da Petrobras, quatro foram da cota pessoal do ministro de Minas e Energia. “Nomes ligados ao bolsonarismo, ao mercado financeiro e a favor de privatizações”, resumiu Bacelar.
Alexandre Silveira é filiado ao PSD do secretário de Governo de São Paulo, Gilberto Kassab, e entrou na equipe de Lula tendo como padrinhos políticos o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e seu colega Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Indicado para o conselho da Petrobras, Vitor Eduardo de Almeida Sabak, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), é ligado a Alcolumbre e ao senador Rogério Marinho (PL-RN), que teve apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro na disputa pelo comando do Senado, em fevereiro. Sabak foi assessor especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, e ajudou a articular a reforma da Previdência.
Outro nome sugerido por Silveira foi o de Eugênio Teixeira. A nota da Federação Única dos Petroleiros afirma que, além de ter sido sócio do ex-vice-governador de Minas Clésio Andrade na empresa Aurium Trading Importação e Exportação, Teixeira foi “vacinado contra Covid 19 gratuitamente e às escondidas, numa garagem”.
A FUP observa, ainda, que o empresário do setor de açúcar e álcool Eduardo Turchetto, também indicado, “responde a processo relacionado à destruição de floresta, com corte de árvores no bioma da Mata Atlântica, em Minas Gerais”. Já Pietro Mendes, nome apresentado para presidir o conselho da companhia, foi secretário de Bento Albuquerque quando o almirante era ministro de Minas e Energia de Bolsonaro. Funcionário de carreira da Agência Nacional de Petróleo (ANP), hoje ele acumula a função com o cargo de secretário de Petróleo e Gás do ministério.
A “falta de transparência” de Silveira na montagem de sua equipe é alvo de queixas e reparos. A FUP destaca, por exemplo, que o titular de Minas e Energia bancou o nome de Bruno Eustáquio como secretário executivo do Ministério, à revelia do veto da Casa Civil. “Eustáquio trabalhou como secretário adjunto na pasta e secretário executivo de Infraestrutura durante o governo Bolsonaro”, diz a nota.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, tentou amenizar o embate com Silveira nas fileiras do PT. “Silveira tem total respaldo do presidente Lula”, afirmou Pimenta, alegando que todas as indicações para o Conselho Administrativo da Petrobras foram “consensuais” entre Silveira, Jean Paul Prates e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.