Foto: Reprodução/Arquivo pessoal.
O nascimento de um filho sempre é um momento especial para as mães. E para a advogada Vanessa Porto Figueiredo, o nascimento de Valentin, teve um significado ainda maior: ter um filho do marido que morreu em um acidente.
O casal tentava engravidar fazendo processo de fertilização in vitro há 3 anos. A última tentativa que fizeram foi em março de 2022. No dia 14 de março, o casal recebeu a mensagem do laboratório dizendo que tinham conseguido o embrião.
Uma hora depois, após saber que poderia ser pai, Valber Santi de 40 anos sofreu um acidente e morreu após uma carreta tombar e cair em cima do carro do empresário, na Rodovia Leste-Oeste, em Cariacica, na Grande Vitória.
Menos de um ano depois, no dia 14 de fevereiro, nasceu Valentin, no dia de São Valentim, um sonho tão esperado pelo casal, e que Vanessa descreveu com muita emoção.
“Um mix de sentimentos, vem aquela emoção. Quando eu vi o Valentin, eu tive uma sensação de renascimento, como se o Valber tivesse voltado para mim. Logo no dia do amor”, disse Vanessa.
O sonho de ser pai
A advogada contou que na mesma hora que o laboratório mandou a mensagem dizendo que tinham conseguido o embrião, ela encaminhou a mensagem para o marido, que estava trabalhando em um condomínio na Serra.
“Ele respondeu por áudio, uma mensagem muito bonita, falando de fé. Uma hora depois, ele morreu nesse acidente”, lembrou.
O casal, que estava junto desde 2017, sempre conversou sobre o desejo de serem pais. Depois de se casarem em 2018, eles fizeram algumas tentativas e procuraram uma clínica de fertilização. Após seis tentativas, o embrião foi gerado.
“Sempre quando a gente recebia um não, nós nos apoiávamos. Pensávamos, se não deu certo, é porque não é o momento. Ficávamos tristes, mas confiantes de que um dia ia dar certo”, disse Vanessa.
Em um mesmo dia, Vanessa recebeu duas notícias que provocaram sentimentos diferentes. A alegria de finalmente poder ser mãe e a tristeza de perder seu parceiro, pai do Valentin.
Sim, porque até o nome o casal já tinha escolhido, muito antes de saberem o dia que Valentin iria nascer.
“Valber escreveu uma carta no dia do meu aniversário, dizendo que me amava e que queria ser pai do Valentin. Depois da morte do meu marido, eu não tive condições de continuar o tratamento, estava muito debilitada durante o luto. Mas eu nunca pensei em desistir. Desistir seria permitir que o acidente fizesse mais uma vítima, significaria que além de levar meu marido, ia levar também o nosso sonho, o Valentin”, contou.
Quando o casal iniciou o processo de fertilização in vitro, os dois assinaram um termo autorizando que o outro cônjuge poderia utilizar o material biológico em caso de falecimento.
Três meses após a morte do marido, em junho, Vanessa resolveu seguir e iniciar o sonho do casal.
“Eu percebi que a saudade não ia passar, a tristeza também não. Minha vida precisava seguir em frente e o nosso sonho também. Eu via o Valentin como uma esperança e vida. Os três primeiros meses de gravidez foram muito difíceis. Além de sentir todos os sintomas da gravidez, enjoo e os medicamentos da fertilização, eu ainda estava emocionalmente muito abalada. A partir do momento que o Valentin começou a se mexer na minha barriga, o céu se abriu”, contou a mãe.
A gravidez
Vanessa contou que durante toda a gravidez recebeu apoio de toda a família dela e da família do Valber também.
“Todos ficaram muito ansiosos. Eu senti muita falta do meu marido, mas não posso dizer que me senti sozinha porque tive muito apoio. Sentia que ele estava ao meu lado durante a gravidez toda e isso me ajudou muito, além da minha espiritualidade”, afirmou.
A cesárea da advogada foi marcada para o dia 14, e a família toda assistiu. Quem ficou dentro da sala do parto foi a mãe de Valber, Fátima, que segundo Vanessa, foi a pessoa mais ideal para poder representá-lo.
Vanessa disse ao g1 que vai fazer questão de contar para o filho o quanto ele foi desejado pelo pai.
“O mais importante disso tudo é o Valentin saber que ele foi desejado pelo pai dele, que era o sonho do Valber ser pai, e que se o pai dele estivesse aqui, seria um sonho realizado na vida dele. Muita gente falou comigo, ‘nossa você é muito corajosa, por ter essa atitude de ter um filho sozinha’. Meu filho não vai ser menos feliz por não ter o pai aqui, o importante é ele saber que ele foi desejado, amado”, disse Vanessa.
Agora, a advogada segue aproveitando muito cada segundo com o filho. A mãe faz questão de que, desde pequeno, o filho já aos poucos vá conhecendo quem era o pai.
“Eu converso muito com o Valentin, coloco música que o pai dele gostava muito de ouvir, de piano. É claro que eu sinto muita falta do Valber, à noite, eu fico no meu quarto sozinha, eu lembro muito dele, eu sei que estaria aqui me apoiando, ajudando e fazendo a parte dele como um pai. Mas eu não sou uma pessoa revoltada, frustrada com a vida”.
Vanessa disse que a história deles foi para sempre marcada pelas lembranças que seguem vivas no nascimento de Valentin.
Créditos: g1.