Oceanos estão cada vez mais quentes e, de acordo com estudos recentes, a onda de calor nos oceanos atingiu um pico sem precedentes em 2021, superando a influência de episódios regionais mais frios. Desde os anos 80, as águas vêem sofrendo um aumento inquestionável na temperatura. Isso acontece porque estas regiões estão absorvendo grande parte do calor gerado pelas emissões de carbono humanas e, sem reduzir as emissões, continuaremos a quebrar recordes de calor nos oceanos e a enfrentar riscos cada vez maiores de eventos climáticos extremos.
Uma pesquisa de 2022 revelou que a quantidade de gelo que derreteu na Antártica triplicou durante a última década. O estudo mostra que, entre 2012 e 2017, cerca de 200 bilhões de toneladas de gelo derreteram em média por ano, causando um aumento de quase 0,6 milímetros no nível do mar a cada ano. Além disso, os dados mostram o sexto ano consecutivo em que as temperaturas dos oceanos do mundo superam tudo o que já medimos. No geral, os primeiros 2.000 metros dos nossos oceanos absorveram 14 zettajoules a mais do que em 2020 — uma diferença equivalente a cerca de cinco bombas de Hiroshima por segundo.
Este aquecimento está sendo sentido em todos os lugares e tem implicações diretas na frequência, intensidade e extensão de ondas de calor marinhas e outros “pontos quentes” dentro dos oceanos. O derretimento das geleiras, como a “Geleira do Apocalipse”, na Antártida, que pode levar a um aumento catastrófico do nível do mar, é uma consequência direta do aquecimento global.
De acordo com um estudo publicado na revista Nature, cientistas descobriram que, embora a taxa de derretimento da plataforma de gelo sob a Geleira Thwaites, apelidada de “Geleira do Apocalipse”, possa levar centenas ou milhares de anos, a plataforma de gelo pode se desintegrar muito mais cedo, provocando um recuo da geleira que é instável e potencialmente irreversível. Do tamanho do estado da Flórida, parte do que a mantém no lugar é uma plataforma de gelo que se projeta para a superfície do oceano, mas a base segue altamente vulnerável à medida que o oceano esquenta.
Segundo o estudo feito por uma equipe de cientistas americanos e britânicos da International Thwaites Glacier Collaboration, que viajou para a geleira no final de 2019, embora a taxa de derretimento sob grande parte da plataforma de gelo seja mais lenta do que se pensava, rachaduras profundas e formações de “escadas” no gelo estão derretendo muito mais rápido. Isso faz com que a geleira despeje bilhões de toneladas de gelo no oceano todos os anos, contribuindo com cerca de 4% do aumento anual do nível do mar.
O derretimento particularmente rápido ocorre no ponto onde a geleira encontra o fundo do mar, que recuou quase 14 quilômetros desde o final dos anos 1990, expondo uma fatia maior de gelo à água relativamente quente do oceano. O colapso completo da Thwaites poderia levar ao aumento do nível do mar em mais de 70 centímetros, o que seria suficiente para devastar comunidades costeiras em todo o mundo. A “Geleira do Apocalipse” também está agindo como uma represa natural para o gelo circundante na Antártica Ocidental, e os cientistas estimam que o nível global do mar poderia subir cerca de 3 metros se ela entrar em colapso.
Gerando um verdadeiro efeito Borboleta, vale lembrar que a temperatura crescente dos oceanos não só afeta as geleiras e os níveis do mar, mas também impulsiona e alimentas sistemas meteorológicos, criando tempestades e furacões mais poderosos.
Segundo David Rounce, glaciologista da Carnegie Mellon University que não esteve envolvido no estudo, afirmou à CNN que a nova pesquisa oferece “novas percepções sobre a rapidez com que o fundo da plataforma de gelo está derretendo e os mecanismos pelos quais está derretendo, que são muito importantes para melhorando nossa compreensão e capacidade de modelar como a Thwaites mudará no futuro”. Ele complenta, “apesar de ser tão remoto, as consequências do que acontecer com a Thwaites afetarão a todos”.