O mercado automotivo brasileiro tem suas peculiaridades, e nem sempre os melhores carros conquistam o reconhecimento que merecem. O canal Auto Amigos (@autoamigos.oficial), com mais de 300 mil seguidores no Instagram e reconhecido como um dos top 50 influenciadores do mercado automotivo brasileiro, tem se especializado em identificar esses modelos subestimados. Eduardo Valentim, criador do canal, é conhecido por suas análises detalhadas sobre desvalorização, custo-benefício e características técnicas dos veículos.
Esses veículos, apesar de oferecerem excelente relação custo-benefício, acabaram tendo vendas abaixo do potencial devido a fatores como preconceito de marca, timing de lançamento ou falta de conhecimento do público sobre suas qualidades.
Por que o Kia Cerato 4ª geração foi tão subestimado?
O Kia Cerato em sua quarta geração representou um salto qualitativo significativo para a marca sul-coreana no Brasil. Como destacou o Auto Amigos, “desde a primeira geração aqui no Brasil sempre foi um carro muito bom. Mas essa quarta geração ele poderia ter vendido muito mais”. O sedã chegou em 2019 com motor 2.0 flex de até 167 cavalos de potência e 20,5 kgfm de torque, o mesmo propulsor que equipava o SUV Sportage.
O modelo trazia câmbio automático de seis marchas, faróis full LED dianteiros e traseiros, interior bem acabado e rodas de liga leve de 16 polegadas. Apesar dessas qualidades, a Kia conseguiu vender apenas cerca de 2.700 unidades em 2019, representando menos de 2% do mercado de sedãs médios. A empresa estimava emplacar 4.200 Cerato em 2020, números ainda modestos para um produto tão completo.
Quais fatores prejudicaram as vendas do Cerato?
A baixa penetração do Kia Cerato no mercado brasileiro pode ser atribuída a diversos fatores estruturais e de percepção. O segmento de sedãs médios vinha encolhendo sistematicamente, passando de 8,8% do mercado em 2015 para apenas 5% em 2019. Os SUVs avançavam rapidamente na preferência dos consumidores, prejudicando toda a categoria.
Outros elementos que contribuíram para o baixo desempenho incluem:
- Rede de concessionárias limitada: A Kia possuía apenas 80 pontos de venda no país
- Preconceito com marcas asiáticas: Consumidores ainda preferiam marcas tradicionais como Toyota e Honda
- Posicionamento de preço: Com valores entre R$ 94.990 e R$ 104.990, competia diretamente com Corolla e Civic
- Ausência de motor 1.0 turbo: Concorrentes ofereciam opções mais acessíveis com motorização menor
- Falta de tradição no segmento: A marca era mais conhecida pelos SUVs que pelos sedãs
O Cerato acabou sendo descontinuado, confirmando que ter qualidades técnicas não garante sucesso comercial no competitivo mercado brasileiro.
O que torna o Mitsubishi Eclipse Cross especial?
O Mitsubishi Eclipse Cross representa outro caso emblemático de carro injustiçado no Brasil. O Auto Amigos destaca que se trata de “um baita SUV também, tanque de guerra, motor 1.5 turbo de mais de 160 cavalos, 25,5 kg de torque, muito bem acabado”. O modelo oferece opções 4×2 e 4×4, teto solar e equipamentos premium que justificariam vendas muito superiores às registradas.
O Eclipse Cross chegou ao Brasil fabricado em Catalão (GO) com motor MIVEC 1.5 turbo de injeção direta, desenvolvendo 165 cv de potência e 25,5 kgfm de torque. O câmbio automático CVT de 8 velocidades com modo sequencial sport garantia boa dirigibilidade. A versão topo de linha HPE-S com tração integral S-AWC oferecia recursos off-road avançados por preços competitivos.
Por que o Eclipse Cross não conquistou o brasileiro?
Apesar das qualidades técnicas evidentes, o Mitsubishi Eclipse Cross acumulou apenas 1.204 unidades vendidas no primeiro semestre de 2023, ocupando a 50ª posição no ranking nacional. Seus concorrentes diretos apresentavam números muito superiores: Corolla Cross com 18.347 unidades, Jeep Compass com 24.925 e Volkswagen Taos com 3.064 emplacamentos.
Os principais obstáculos enfrentados pelo Eclipse Cross incluem:
- Timing de lançamento: Chegou em momento de alta competição no segmento de SUVs médios
- Motorização monocombustível: Trabalha apenas com gasolina, enquanto rivais oferecem opção flex
- Rede de assistência: Mitsubishi possui rede menor comparada aos líderes do segmento
- Percepção de marca: Consumidores ainda associavam a Mitsubishi mais às picapes que aos SUVs
- Preço inicial elevado: Lançamento com valores próximos aos modelos premium estabelecidos
- Falta de divulgação: Investimento em marketing inferior aos concorrentes principais
Mesmo com reduções de preço de até R$ 29 mil posteriormente, o modelo não conseguiu reverter sua posição no mercado.
Como o mercado brasileiro trata os carros importados?
O mercado brasileiro tradicionalmente demonstra resistência a carros importados ou de marcas menos estabelecidas, preferindo modelos nacionais de fabricantes com longa presença no país. Essa característica cultural impacta diretamente as vendas de veículos tecnicamente superiores, mas provenientes de marcas com menor penetração comercial.
O Auto Amigos enfatiza que tanto o Cerato quanto o Eclipse Cross são “tanques de guerra” e representam “baita opção pra fugir de compas, corola cross e companhia limitada”. Essa observação destaca como modelos alternativos de qualidade podem oferecer diferenciação em relação aos líderes de venda, seja por equipamentos superiores, preços mais acessíveis ou características técnicas específicas.
Qual é o padrão dos carros injustiçados no Brasil?
Analisando os carros mencionados pelo Auto Amigos e outros casos similares no mercado brasileiro, emerge um padrão claro dos modelos que acabam sendo injustiçados pelo consumidor nacional. Geralmente são veículos que chegam ao mercado com propostas técnicas interessantes, mas enfrentam barreiras estruturais para conquistar aceitação.
Os elementos comuns aos carros injustiçados incluem timing inadequado de lançamento, rede de concessionárias limitada, percepção de marca menos consolidada e competição acirrada com modelos já estabelecidos. Paradoxalmente, muitos desses veículos oferecem melhor custo-benefício que os líderes de venda, mas não conseguem comunicar adequadamente suas vantagens ao público final.
O reconhecimento desses modelos pelos especialistas como o Auto Amigos serve como alerta para consumidores atentos, que podem encontrar excelentes oportunidades de compra em carros subestimados pelo mercado, especialmente no segmento de seminovos onde a desvalorização inicial já foi absorvida.
