O esquema de manipulação de resultados em partidas da Série B de 2022, revelado pelo Ministério Público de Goiás, se tornou um escândalo maior do que o divulgado inicialmente. Em entrevista, o promotor Fernando Cesconetto, responsável pela investigação, disse que há indícios de que o esquema envolve alguns estaduais deste ano. Além disso, ele esclareceu como a quadrilha atuava. Eles criaram diversas contas em sites e faziam apostas fracionadas.
Apenas na combinação da Série B, que deu errado — eles esperavam que três pênaltis fossem marcados no primeiro tempo de partida determinadas, mas só dois aconteceram — a quadrilha investiu R$ 200 mil e esperava ter retorno de mais de R$ 1 milhão. Além disso, o empresário, que foi preso, e cooptou os jogadores, cobrou R$ 500 mil de Romário, do Vila Nova, o atleta que não cometeu o pênalti.
Passadas mais de 48 horas da operação, o que mais o MP conseguiu descobrir além das apostas feitas na última rodada da Série B?
Apesar do prazo, de ter passado dois dias, nós ainda estamos recebendo material da operação. Foram vários estados e demora um tempo até chegar aqui em Goiás. No Rio de Janeiro mesmo teve cumprimento e o material ainda vai chegar. E precisamos ainda sentar e analisar. De concreto, nós podemos observar que não foram apenas aqueles casos, não foi uma coisa tão isolada assim. Tiveram apostas em 2023 com modus operandi similar, com pagamento para jogador com sinal antes do jogo e pagamento como se fosse um prêmio, após o jogo, depois que o evento contratado acontecesse. Mas não apenas quanto ao cometimento de pênalti, mas quanto a outros eventos do jogo, como placar parcial do primeiro tempo, escanteio, cartão. Isso de uma maneira mais recorrente e acontecendo em 2023. Nós precisamos aprofundar para identificar as partidas e os atores envolvidos. Mas o grupo de apostadores atuou não só em 2022, nos jogos da Série B, mas em outros, neste ano inclusive.
O MP conseguiu identificar algum esquema anterior a esses dos jogos da última rodada da Série B do ano passado?
O que dá para verificar é que as apostas aconteciam desde antes. Mas em relação a pênalti é daquele período. De outras apostas temos que aprofundar para saber se eram encomendadas ou se eram apostas normais.
Uma pessoa presa em São Paulo foi presa por cooptar os jogadores e fazer os pagamentos. Já é possível dizer se tinha alguém acima dela ou quantas pessoas participavam desse esquema?
Ainda não. Nós vamos avançando a investigação por etapas. Neste momento temos essa pessoa, responsável pelo pagamento e contato com jogadores. Muito por conta do caso do Vila Nova, por não ter dado certo, essa pessoa de São Paulo fez contato cobrando o jogador por causa do prejuízo causado, e a investigação ganhou relevo. Ele estava cobrando e continuou cobrando ao longo de 2023, até o presente momento da operação ainda tinha essa dívida. Agora vamos analisar tudo o que temos para verificar quem mais atua com ele. Acredito que não era sozinho.
Essa pessoa presa está colaborando com a investigação?
Ele não confirmou 100%, colaborou até certa medida e apresentou a sua versão. Agora nós temos que checar se a versão dele confere com as provas que estamos colhendo.
Como era o esquema das apostas?
Eram várias plataformas e usavam dezenas de contas para aumentar o prêmio. O prejuízo estimado com a aposta que deu errado foi de mais de R$ 1 milhão, tirando o que seria pago aos atletas. Não foi simplesmente uma aposta que fez uma conta. O que nós temos são apostas fracionadas, totalizando quase R$ 200 mil.
O empresário de São Paulo cobrou do jogador do Vila Nova apenas os R$ 10 mil que deu de sinal ou a quantia do prejuízo?
Ele estava cobrando o valor do prejuízo, que ele estimou que foi de aproximadamente R$ 500 mil. Ele perdeu com o sinal de R$ 10 mil, e como os jogadores que cometeram os pênaltis e estavam esperando receber, ele passou a cobrar considerando que ele tinha que custear o que eles deixaram de ganhar. E ela estava cobrando ostensivamente.
O Globo