Dr. Alexandre Feldman, médico especializado em cefaleias e palestrante (CRM SP 59046, Instagram: @enxaqueca), aborda um ponto crucial para quem sofre com enxaqueca na menstruação. Tomar remédio para evitar a menstruação pode parecer uma solução prática para evitar a dor, mas, segundo ele, pode causar um desequilíbrio químico cerebral que agrava a enxaqueca.
No trecho da fala, o Dr. Feldman alerta que evitar o ciclo menstrual artificialmente pode levar a um padrão de dor mais intenso e prolongado, espalhando a enxaqueca pelo resto do mês — e, muitas vezes, com mais intensidade e dificuldade de tratamento.
Por que interromper a menstruação com medicação pode intensificar a enxaqueca menstrual?
O tratamento hormonal contínuo pode parecer uma forma de evitar a queda natural de estrogênio que desencadeia a enxaqueca menstrual. No entanto, estudos mostram que o uso de contraceptivos combinados (estrogênio + progesterona) pode piorar ou desencadear novas crises, especialmente nas “folgas” ou via ajuste hormonal inadequado . A International Headache Society e colégio americano ACOG recomendam reavaliar ou interromper o uso em casos de agravamento das cefaleias.
Esse tipo de remédio realmente provoca desequilíbrio químico cerebral?
Sim. A queda abrupta de estrogênio, seja por interrupção da pílula ou pílula contínua, pode gerar flutuações hormonais que afetam neurotransmissores cerebrais ligados à dor. Essa instabilidade pode espalhar a enxaqueca ao longo do mês, dificultando o tratamento tradicional.
Enxaqueca menstrual é comum e tem relação direta com hormônios?
Sim. Migraine menstrual atinge entre 60% e 70% das pessoas que já têm enxaqueca, relacionada à queda no nível de estrogênio antes ou durante a menstruação. Sintomas típicos incluem cefaleia intensa, pulsátil, náuseas, sensibilidade à luz/som e, em alguns casos, aura visual .
Como equilibrar a enxaqueca sem evitar o ciclo menstrual?
A abordagem mais recomendada é:
- Usar anticoncepcional com regime contínuo ou quase contínuo (sem pausa ou com pausa reduzida), reduzindo a oscilação hormonal que dispara a dor.
- Optar por pílulas apenas com progesterona quando houver contraindicação ao estrogênio, como nos casos de enxaqueca com aura .
- Adotar estratégias não hormonais, como uso de anti-inflamatórios (ex.: naproxeno) antes e durante o início do sangramento .
- Fazer acompanhamento médico sempre que houver piora da cefaleia com uso de anticoncepcionais combinados.
Quais cuidados devo ter se optar por regime contínuo?
Embora o regime contínuo reduza a flutuação de hormônios e pode aliviar crises, ele também pode causar efeitos colaterais — como dor de cabeça fora do período menstrual, alterações de humor, sangramentos irregulares e, raramente, risco cardiovascular aumentado, especialmente em pílulas com estrogênios mais elevados pmc.ncbi.nlm.nih.gov.
Posso usar pílula sem pausa para evitar enxaqueca?
Sim, essa é uma estratégia suportada por pesquisas. A pílula contínua (sem pausa ou com pausa mínima) reduz a queda de estrogênio e, consequentemente, diminui as crises menstruais . Porém, o acompanhamento por profissional é essencial para ajustar doses e avaliar efeitos adversos.
Essa prática é segura a longo prazo?
Dados indicam que o uso prolongado contínuo das pílulas combinadas não apresenta maiores riscos em curto prazo, mas a longo prazo é necessário monitorar efeitos colaterais, particularmente em mulheres com fatores de risco cardiovascular . Métodos apenas com progesterona têm menor risco e podem ser mais indicados nesses casos .
Fontes oficiais:
- Organização Mundial da Saúde (OMS) – contracepção e risco de AVC em migranhosas com aura
- American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) – condutas em cefaleias e anticoncepcionais hormonais
- International Headache Society (IHS) – guidelines para enxaqueca menstrual e uso de hormônios
- Cleveland Clinic – explicação sobre enxaqueca menstrual
- Mayo Clinic – efeitos dos anticoncepcionais combinados em padrões de dor de cabeça
