Foto: Divulgação/Governo de São Paulo
A oposição ao presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, dobrou a aposta e, na assembleia feita nesta segunda-feira na sede da entidade, conseguiu a maioria dos votos para destituí-lo do cargo. Agora, deve se iniciar uma disputa jurídica. Foram 47 votos para retirá-lo do cargo, duas abstenções e um voto a favor de Josué.
Antes, os sindicatos votaram, por 62 a 24, a reprovação dos argumentos dados por Gomes aos questionamentos sobre sua atuação no cargo, a maioria de cunho político. A primeira votação se deu após quatro horas e meia de assembleia e, assim que terminou, Gomes deixou o encontro. Na sequência, sem a presença do dirigente, os remanescentes abriram uma segunda assembleia e aprovaram a destituição do presidente do cargo por 47 votos a favor, 1 voto contra e 2 abstenções.
A assembleia foi marcada por gritos de ordem e um clima quente nesta segunda-feira, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. A votação ocorreu no mesmo dia em que Gomes buscou demonstrar força ao trazer à sede da Fiesp para um almoço com os sindicatos o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB).
Há quase dois meses, o presidente da maior entidade empresarial do país enfrenta acirrada oposição de um grupo de dirigentes fomentada pelo seu antecessor no cargo e até então padrinho, o bolsonarista Paulo Skaf.
Aproveitando-se da histórica máxima de que empresários brasileiros não costumam comprar briga com o governo federal por receio de prejudicarem os negócios, Josué anunciou ainda a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) na próxima reunião da diretoria da Fiesp, no dia 30 de janeiro, e do ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), para o seguinte encontro da cúpula da entidade, em 6 de fevereiro.
Gomes chegou a ser convidado por Lula para assumir o Mdic, mas recusou. Quando anunciou o nome de Alckmin para o cargo, em dezembro, Lula chamou a disputa na Fiesp de “tentativa de golpe”.
Segundo interlocutores do movimento de oposição a Gomes, a demontração de força foi vista também como um ato de desespero e não é suficiente, per se, para levar o grupo à desistir da ofensiva.
Na assembleia, o grupo oposicionista buscou dar um verniz ético à movimentação contrária a Gomes questionando, por exemplo, a nomeação do ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho para o conselho de micro, pequena e média empresa ao mesmo tempo em que sua consultoria Macrotempo Economia e Finanças. Dirigentes sindicais afirmaram a Gomes que viam um conflito ético na contratação da empresa.
O pano de fundo da disputa, no entanto, tem menos a ver com corrupção e mais com disputa política. De estilo reservado, Gomes colecionou inimizades ao longo de um ano na Fiesp por deixar de atender a pleitos de entidades patronais de menor porte, que tinham excelente relação com Skaf.
Após 17 anos à frente da Fiesp, Skaf escolheu Gomes como sucessor em 2021 e trabalhou para que ele e seu vice, Rafael Cervone, fossem candidatos em uma chapa única na Fiesp. De fato, ambos só enfrentaram oposição no voto na disputa pelo Ciesp, em que Cervone se elegeu presidente e Gomes, vice.
A relação de Gomes com Skaf, no entanto, azedou poucos meses depois. Segundo dirigentes de entidades patronais, foi decisivo para o afastamento de ambos a postura de Gomes como articulador do manifesto empresarial pró-democracia que foi visto pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) como uma afronta pessoal.
O Globo