Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.
“Sempre nos demos bem, mas nunca estivemos muito próximos. Depois do transplante, tudo mudou porque tem uma parte dele em mim”. Dessa forma, o morador de Sumaré (SP) Luiz Fernando Sturaro, de 36 anos, resume a emoção de receber um rim idêntico doado pelo irmão, Lucas Sturaro, 5 anos mais novo.
Paciente renal crônico, Luiz Fernando convive com problemas de saúde desde a infância. Com 1 ano e meio de idade, precisou retirar um dos rins e, desde então, toma medicamentos. A situação piorou há cerca de um ano, quando começou a fazer hemodiálise de três a quatro vezes por semana.
“Eu fui fazendo hemodiálise sem muitas esperanças, porque não é fácil encontrar um doador e eu não queria prejudicar ninguém. Fui passando por isso sozinho. E aí, acho que ele viu meu sofrimento e correu atrás pra saber se poderia me doar o rim, mas eu não sabia de nada”.
Ao ver a situação assustadora e sensível do irmão mais velho, Lucas decidiu tentar ajudar. Fez exames de compatibilidade e esperou ansiosamente pelo resultado.
“Quando soube que podia dar essa esperança para ele, não tive dúvidas. Nunca tive. O meu medo era não ser compatível. Eu estava com o queijo e a faca na mão e esperei cerca de 15 dias para saber se podia cortar o queijo”.
O resultado foi surpreendente. Das três opções possíveis (não compatível, compatível e idêntico), os irmãos obtiveram a melhor compatibilidade possível. A chance de encontrar um órgão considerado idêntico é de cerca de 25% a 30%, e a cirurgia deles durou aproximadamente quatro horas.
“As duas cirurgias foram feitas simultaneamente. Eu e meu irmão fomos em salas uma ao lado da outra com duas equipes trabalhando”, explicou Lucas.
O transplante de rim com esse nível de compatibilidade garante mais vida ao órgão e diminui a chance de complicações, já que reduz as dosagens de imunossupressores – remédios que diminuem as defesas imunológicas contra agressões de agentes externos e contra o rim transplantado, que tem uma probabilidade menor de ser rejeitado, segundo a médica dos irmãos Sturaro.
O transplante, realizado em 12 de novembro de 2022 no Centro Médico de Campinas, foi bem sucedido. Lucas, o doador, postou um vídeo no Instagram no dia 7 de dezembro.
A publicação ganhou repercussão e, até este sábado (14), contava com cerca de 1 milhão de visualizações em diversas redes sociais.
A relação dos dois nunca mais será a mesma. Unidos pelo sangue e agora, por um rim, a história dos dois viralizou nas redes sociais. “Só quem passa a situação para entender, mas mudou muito a nossa relação”, retrata Luiz Fernando.
Mas além da saúde, Fernando ganhou um presente ainda maior, o fortalecimento da conexão com Lucas. “Nossa relação está incrível. É um amor incondicional, ele não precisava fazer isso por mim”, completou o irmão mais velho.
“Foi uma alegria muito grande, em momento algum eu sequer tive dúvidas disso. Oferecer para o meu irmão a possibilidade de viver de verdade, de ter uma relação mais próxima, acabou sendo um presente para nós dois”, conta Lucas.
Esperança renovada
Fernando sofria com as complicações renais desde que nasceu. Desde a barriga de sua mãe, quando foi acometido por uma infecção, passando pela primeira cirurgia com 1 ano e meio de idade, quando teve de retirar um dos rins.
Com o passar dos anos, desenvolveu outros problemas de saúde, como diabetes, colesterol, anemia e pressão alta. Agora, ele conta que pode fazer planos para o futuro.
“É uma nova oportunidade, é incrível porque só o transplante reduziu em mais de 30% os meus incômodos. Eu sou outra pessoa. É um sonho, receber mais um pouco de vida, ter mais tempo aqui na terra para viver. Eu vivia inseguro, com medo, sempre tomando remédio. A doença era uma prisão”.
A melhora significativa deu ânimo e serviu de combustível para os sonhos cada vez mais palpáveis de Luiz Fernando.
“Hoje, meu sonho é voltar a trabalhar, ajudar alguém como o Senhor me ajudou. Sou bombeiro voluntário e quero voltar a ajudar as pessoas.”
Créditos: G1.