No primeiro dia de governo, Ministério da Justiça extinguiu quase metade dos cargos do setor estratégico
A extinção de cargos de confiança na Polícia Rodoviária Federal em Brasília, com a exoneração de seis dos 14 integrantes do núcleo de inteligência da PRF, causou um vácuo no trabalho de detecção de riscos que pode ter agravado o estrago provocado pelas invasões do final de semana na capital federal.
Além disso, segundo fontes da corporação ouvidas sob reserva, a medida trará impactos para toda a cadeia de comando de inteligência e inviabilizará a atuação do setor em pelo menos 50 postos regionais.
O efeito em cascata na cadeia de comando do núcleo de inteligência teria feito com que agentes na ponta da linha não consolidassem uma estratégia e tivessem seu trabalho “quase que completamente restringido”.
Normalmente, isso é feito em diferentes frentes de ação costuradas entre Brasília e as subdivisões de inteligência nos estados, como o mapeamento de caravanas, a obtenção da lista de passageiros, a identificação dos financiadores do aluguel dos veículos, o monitoramento das viagens e a infiltração de policiais em aglomerações como o acampamento do quartel-general do Exército e das caravanas nas rodovias.
Para integrantes experientes da PRF, isso poderia ter colaborado para a identificação dos manifestantes em detalhes antes da chegada dos veículos à capital.
No dia do segundo turno, quando caminhoneiros pararam as estradas em 16 estados brasileiros, agentes da PRF ouvidos pela equipe da coluna relataram que a cúpula da corporação detectou a mobilização de manifestantes para fechar rodovias em caso de vitória do Lula ainda na semana anterior à votação, mas não tomou providências.
Desta vez, segundo os mesmos agentes nos relataram, um grande número de ônibus que se dirigiam a Brasília foi detectado – mas que não houve informes sobre o grau da ameaça. É justamente o vácuo que teria sido criado pela alteração da estrutura de inteligência, já que havia fortes indícios de que manifestantes viajaram à capital com o objetivo de cometer crimes.
O Globo