Foto: Reprodução/YouTube.
Marcos Lisboa, um dos principais nomes da área econômica da primeira gestão de Lula, afirmou que “o Brasil está no caminho de uma nova crise severa se o governo eleito não adotar um freio de arrumação”. Lisboa analisa que o país lida com um cenário preocupante de gastos públicos desenfreados e enfraquecimento das regras fiscais.
“Eu temo que, talvez, a gente tenha que enfrentar uma nova grave crise para poder começar a superar os problemas que estão sendo construídos”, afirmou Lisboa em entrevista ao Estado de S.Paulo, neste sábado, 31.
O atual presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) ocupou o cargo de secretário de Política Econômica no ministério liderado por Antônio Palocci, entre 2003 e 2005. Ele descreveu a sua participação no governo petista da época mais como um “acidente do que uma intenção”.
O economista afirmou que a agenda de estimular o investimento com subsídios e direcionamentos adotada por Lula, antes de deixar a presidência da República, causou um baixo crescimento e uma crise fiscal que hoje é mais grave do que há 20 anos.
Marcos Lisboa ponderou que, mesmo com dois anos de pandemia, a economia reagiu melhor do que o esperado, mas explicou que as 42 medidas aprovadas no governo Bolsonaro, sendo 12 delas emendas constitucionais, como o auxílio-taxista, auxílio-caminhoneiro, proteção para etanol, distribuição de benefícios, “joga o dinheiro da sociedade no mar para beneficiar alguns”. “O aspecto trágico do Brasil é que quando as coisas começam a melhorar a gente anda para trás”, afirmou o economista.
Lisboa ressalta que o Brasil está submerso em um “descaminho institucional imenso” na última década e se referiu ao governo Dilma como “muito incompetente tecnicamente e na política”.
“Era uma agenda incrivelmente atrapalhada, ineficaz, de pouco diálogo e tecnicamente superficial”, disse o economista. “Na última eleição, foi impressionante como o Congresso se apropriou de verbas.”, sustenta. “Com o fundo eleitoral, por exemplo, tem de explicar para o estrangeiro que o Brasil dá US$ 1 bilhão para os partidos disputarem a eleição, fora o fundo partidário, fora o horário eleitoral gratuito.”
A crise de 2012 foi contida pelas reformas feitas pelo presidente interino Michel Temer, que sucedeu ao cargo com o impeachment de Dilma Rousseff. Marcos disse que bastou a crise ser contida para que os grupos “organizados, com apoio da esquerda e da direita, se realinhassem para voltar a captura do Estado”.
Com a eleição de Lula, o presidente do Insper acredita que estamos a caminho de outra crise econômica severa, de acordo com os resultados da Bolsa.
“Esse risco existe e ele se agravou nas últimas semanas. A continuar essa expansão do desequilíbrio das contas públicas, a dívida pode sair de controle no curto prazo, e o risco é de um aumento da inflação e das taxas de juros no médio prazo, com impactos recessivos sobre a economia.”
O economista alega que tem esperança no “pragmatismo de uma parte da liderança da esquerda se as coisas começarem a desandar”. Ele alerta que se o governo eleito se manter na posição de que o mercado é vilão não terá bons resultados. “Essa falácia de que o mercado é um sindicato, alguém que a gente negocia… Não existe isso”, concluiu.
Créditos: Revista Oeste.