A rápida elevação da taxa de juros no país, medida adotada para combater a maior inflação em quatro décadas, está por trás desse resultado
O mercado de ações dos Estados Unidos encerrou nesta sexta-feira (30) o seu pior ano desde a crise do setor imobiliário americano de 2008. A rápida elevação da taxa de juros no país, medida adotada para combater a maior inflação em quatro décadas, está por trás desse resultado.
Além da concorrência que a renda fixa representa para o mercado de ações, analistas passaram a temer que o aperto à oferta de crédito poderá resultar em uma recessão global em 2023, o que seria um cenário ainda pior para as empresas e isso afugentou ainda mais investidores dos chamados mercados de risco.
Referência para os papéis negociados na Bolsa de Nova York, o indicador S&P 500 fechou o ano em queda de 19,5%, o pior resultado anual desde o tombo de 38,5% há 14 anos.
Com um mergulho ainda maior, o índice Nasdaq perdeu 33% neste ano, chegando perto da queda de 40,5% no ano da crise financeira.
É neste segmento que estão as médias empresas com grande potencial de crescimento, muitas da área de tecnologia. É um setor sensível à alta dos juros porque o crédito barato se faz necessário para a expansão desses negócios. O setor de tecnologia, em geral, tende a ser punido pela alta dos juros.
As ações da Meta, dona do Facebook, recuaram cerca de 64% em 2022, no pior ano para os papéis. Neste caso, a companhia ainda enfrentou outros problemas, como a concorrência do aplicativo chinês de vídeos curtos TikTok.
Composto por 30 empresas de grande valor, o Dow Jones caiu 8,78% neste ano. Embora seja mais resistente à alta de juros, uma vez que há menor dependência do crédito por esse tipo de companhia, o índice também registrou em 2022 o seu pior resultado desde que despencou quase 34% em 2008.
Em um cenário desafiador para o mercado de ações, conseguiram nadar contra a corrente as Bolsas que possuem grande participação de exportadores de matérias-primas cuja oferta sofreu ameaças, sobretudo devido ao início da Guerra da Ucrânia. É o caso do Brasil.
O Ibovespa, referência para a Bolsa de Valores brasileira, encerrou as negociações de 2022 nesta quinta-feira (29) com uma alta anual acumulada de 4,69%. Empresas do ramo de produção e exploração de petróleo e gás estiveram entre os destaques do mercado acionário do Brasil.
A equipe de estrategistas da XP Investimentos descreveu essa situação favorável ao Brasil como um típico caso de “tina”, expressão que virou moda no mercado americano e que significa “there is no alternative” (não há alternativa). O tombo global das ações pegou gestores de surpresa.
Apesar de esperarem que houvesse algum recuo no mercado de ações após três anos consecutivos de grande sucesso, o ano de 2022 se tornou pior do que o inicialmente imaginado. Mesmo o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, levou algum tempo para reconhecer que a inflação não seria transitória e que, conforme disse em agosto no simpósio mundial de banqueiros centrais, o combate à crise seria doloroso.
“Acho que [2022] provavelmente foi um dos anos mais difíceis de acertar para os participantes do mercado”, disse Hani Redha, gerente global de portfólio de múltiplos ativos da PineBridge Investments, ao The Wall Street Journal. As ações europeias também caíram neste ano marcado por tensões geopolíticas e temores de recessão, à medida que os bancos centrais também aumentam as taxas de juros por lá.
A exceção foi a Bolsa de Londres, cuja forte exposição às commodities resultou em ligeira alta na casa dos 0,7%. Além disso, a libra fraca também ajudaram o Reino Unido a ganhar com o seu setor de exportações.
O índice Stoxx 600, que é uma referência para ações negociadas na Europa, caiu 12,9% em 2022 e registrou o seu pior desempenho desde 2018. O Banco Central Europeu abrandou o ritmo de seus aumentos de juros no início deste mês, mas enfatizou que um aperto significativo ainda está por vir e apresentou planos para drenar dinheiro do sistema financeiro.