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Antônio Martins dos Santos Filho, mais conhecido como Nero do Piseiro, é acusado de ser um dos principais responsáveis por um ataque a um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Tremembé, interior de São Paulo, que resultou na morte de duas pessoas. Nero, que já possuía antecedentes criminais, foi preso pela Polícia Civil de São Paulo sob a acusação de liderar a ação violenta no início de janeiro de 2024. O ataque também deixou seis pessoas feridas, e sua motivação estaria ligada a uma disputa interna sobre a venda de um lote dentro do assentamento.
Com 41 anos, Nero do Piseiro nasceu em Petrolina, Pernambuco, e tem registros anteriores por porte ilegal de armas. Durante as investigações sobre o caso, ele confessou sua participação e colaborou com as autoridades, indicando o paradeiro de outros suspeitos. Segundo o delegado responsável, testemunhas e vítimas reconheceram Nero como um dos participantes do incidente.
O que motivou o ataque?
A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que a ação violenta foi decorrente de uma desavença sobre a comercialização de um terreno dentro do assentamento, e não foi uma ameaça direta ao MST ou a suas atividades. De acordo com o delegado Marcos Ricardo Parra, os envolvidos no ataque visavam resolver uma disputa particular ligada à aceitação de novas pessoas no local, sem o intuito de apropriar-se das terras.
O ataque armado envolveu um grupo que, sob a liderança de Nero, foi ao assentamento para intimidar os moradores. Contudo, a resistência à sua presença resultou em um confronto. Os moradores estavam equipados com armas brancas e utensílios agrícolas, insuficientes para o arsenal trazido pelos invasores, o que levou ao desenrolar trágico dos eventos.
Quais foram as consequências do ataque?
No total, dez pessoas estavam presentes no momento do ataque, entre elas crianças e idosos. Dois dos moradores, Valdir do Nascimento, conhecido como “Valdirzão”, e Gleison Barbosa de Carvalho, perderam a vida, e outros dois foram hospitalizados em estado grave. O incidente gerou uma forte repercussão, inclusive com ministros do governo Lula expressando solidariedade e cobrando punição para os responsáveis.
Em resposta, o Ministério da Justiça e Segurança Pública ordenou uma investigação federal por meio de um inquérito conduzido pela Polícia Federal. A equipe já foi deslocada ao local para iniciar as diligências.
O que está por trás do interesse pelo assentamento?
Gilmar Mauro, dirigente nacional do MST, destacou em declarações à mídia que existe um interesse crescente do mercado imobiliário na região, que pretende transformar áreas de assentamento em zonas de condomínios e especulação imobiliária. Segundo Mauro, essa situação intensifica a tensão, promovendo o uso de milícias armadas para hostilizar os assentados. O dirigente afirmou que o ataque a Tremembé se insere nesse contexto mais amplo de pressão e violência contra comunidades voltadas para a agricultura familiar.
Quais serão os próximos passos da investigação?
Com a prisão de Nero do Piseiro e a instalação do inquérito pela Polícia Federal, as investigações se concentram em identificar todos os envolvidos no ataque e em entender a extensão do conflito interno que motivou a violência. As autoridades buscam também elementos que comprovem ou desmintam a hipótese de participação de organizações criminosas ligadas ao mercado imobiliário. O governo federal se comprometeu a acompanhar de perto o desenrolar do caso, garantindo que os responsáveis sejam levados à justiça.