Foto: Radio Free Europe/Radio Liberty/Serhii Nuzhnenko via REUTERS.
Em uma sala no leste da Ucrânia, jovens se sentam em uma longa mesa repleta de laptops, com os olhos grudados na televisão, a um braço de distância.
Eles observam figuras escuras no topo de uma colina, que parecem entrar em pânico e, então, correr. É um vídeo ao vivo de um pequeno drone ucraniano a vários quilômetros de distância – um dispositivo usado para auxiliar equipes de artilharia a acertar soldados russos em suas trincheiras.
Ao longo das linhas de frente do leste, em centros de comando subterrâneos escondidos atrás de portas de metal não marcadas, soldados ucranianos estudiosos direcionam o fogo de artilharia em uma tentativa desesperada de conter o avanço russo.
Este é um campo de testes da vida real para a guerra inovadora do século 21. Os homens usam drones baratos e disponíveis comercialmente e programas de bate-papo para identificar e comunicar alvos para um armamento que, em muitos casos, tem várias décadas.
A luta mais feroz está ocorrendo pela cidade de Bakhmut, sitiada por meses pelas forças russas. A agressividade dessa batalha é aparente desde os primeiros momentos de aproximação da cidade, onde a fumaça escura sobe a partir de prédios de apartamentos.
Quando uma equipe da CNN entrou na estrada principal de tráfego intenso, um projétil de artilharia russa atingiu um edifício a apenas algumas dezenas de metros de distância.
Momentos depois, outro projétil atingiu o prédio novamente, levando nossa escolta militar a exigir que a equipe se retirasse. Grande parte dessa guerra é travada evitando a incessante ameaça da artilharia russa.
O Kremlin concentrou um grande número de forças para este ataque a Bakhmut, mas as tropas da Ucrânia estão lutando, diz Petro, o comandante da Guarda Nacional que dirige esta unidade.
“Parece um ataque constante e ininterrupto. A única janela para descansar é quando eles ficam sem gente e esperam por reforços”, diz.
Como outros militares ucranianos, Petro usa apenas seu primeiro nome, para proteger sua identidade. Ele descreve uma batalha para a qual a Rússia enviou onda após onda de forças, aparentemente se importando pouco se fossem eliminadas.
“A tática deles é enviar essas pessoas pobres que precisamos eliminar. Eles não podem tomar Bakhmut com um ataque direto, então eles contornaram. Tivemos que nos deslocar das áreas urbanas para os campos onde estamos muito expostos à artilharia”, explica.
A descrição de Petro é similar à de Serhiy Hayday, chefe ucraniano da região vizinha de Luhansk, que afirmou no mês passado que perto de Bakhmut os russos “morrem em massa – os mobilizados simplesmente avançam para identificar nossas posições”.
Condições adversas
Alguns soldados russos descreveram baixas significativas, embora o Ministério da Defesa do país tenha pontuado no início deste mês que as perdas “não excederam 1% da força de combate e 7% dos feridos”.
Cada canto do centro de comando subterrâneo é ocupado – por quadros brancos registrando abates, camas de dormir, caixas de drones esperando para serem configurados.
“As estradas estão lamacentas. Não podemos evacuar os feridos rápido o suficiente e entregar munição”, adverte Petro.
Os comandantes ucranianos também reclamam da falta de comunicação entre as unidades e da falta de oficiais de escalão inferior suficientes para manter os soldados motivados e na luta após meses de guerra extenuante.
Voltando ao campo de batalha, mais à frente, em uma linha de árvores que faz fronteira com terras agrícolas, está a unidade de artilharia ucraniana, conectada por telefone com o centro de comando.
Tuman, o comandante do pelotão, recebe as coordenadas em um celular em uma das mãos e as anota em um caderno que segura na outra.
Ele as grita, e um soldado as repete de volta antes de mirar a peça de artilharia da era soviética que eles agora carregam com projéteis de fabricação polonesa. Com o puxão de uma corda, as folhas de outono são sacudidas do solo quase congelado e um projétil assobia em direção ao horizonte.
“Nosso Estado-maior tenta fornecer o maior número possível de munições, mas entendemos que estamos com pouco calibre. Mas você consegue o que é possível”, destaca Tuman na relativa segurança de uma trincheira próxima.
Ele afirma que a precisão da artilharia russa se deteriorou ao longo do ano, pois as forças ucranianas prejudicaram a capacidade do inimigo de realizar reconhecimento aéreo.
“A precisão deles caiu, mas seus projéteis estão voando sobre nós o tempo todo”, ressalta.
Em outro centro de comando subterrâneo, mais ao sul da região de Donetsk, outro grupo de soldados olha para seu próprio conjunto de telas. O comandante deles, Pavlo, nos afirma que eles contabilizam dezenas de baixas diárias.
“Veículos e munições são expansíveis. Tentamos não contá-los e usamos o quanto precisamos para impedir o avanço do inimigo. A única coisa que não podemos recuperar são vidas humanas”, observa.
Mas ele está otimista sobre esse custo. “Não há guerra sem vítimas. Se resistirmos e não quisermos que os russos capturem nosso território, precisamos lutar. Se lutarmos, sofreremos baixas. Essas baixas são justificadas e inevitáveis”, pondera.
Créditos: CNN.