Foto: Lucas Figueiredo/CBF.
“I feel good. I knew that I would.” Este é um dos refrões mais conhecidos mundialmente. Pertence ao inesquecível James Brown (1933-2006), cantor norte-americano, um pioneiros do soul.
Esta parte da música I got you (Eu te conquistei, em tradução livre) foi o maior sucesso de Brown. O refrão que Neymar cantou aos altos brados no Grand Hamad Stadiu, Centro de Treinamento do Brasil, aqui no Catar, caiu como uma luva no que sentiu no teste no seu tornozelo direito.
O que cantou, mal, em inglês signfica. “Eu estou bem. Eu sabia que ficaria.”
Foi o que bastou. Os jornalistas brasileiros que estão aqui em Doha, furiosos com a derrota da Seleção para Camarões e chocados com os tristes cortes de Alex Telles e Gabriel Jesus, ficaram encantados. Esqueceram de todos os problemas na Seleção Brasileira, como ter só um lateral esquerdo, Alex Sandro, e que tenta, se recuperar para enfrentar a Coreia do Sul, amanhã.
Por que está mais do que evidenciado que Neymar vai muito além de ser um jogador midiático. Ele é fundamental para a vida da Seleção Brasileira nesta Copa de 2022.
“Com ele bem, tudo muda. O astral, a confiança. Não é que o time dependa dele. Mas com o Neymar tudo fica diferente, mais fácil. Os nossos adversários passam a nos respeitar mais, dobram a marcação nele. Há mais espaço para jogar. O Brasil fica muito mais forte. Por isso que todos torcemos para o Neymar se recuperar”, me disse Vinicius Junior.
“A movimentação no ataque é outra. Quando a bola chega nos pés dele, eu tenho a certeza que vem ‘coisa boa’. Eu corro para o outro lado, me desloco. Tenho certeza que o Neymar vai abrir a defesa driblando ou me dar um passe para que eu bata para o gol. Ele é um dos melhores do mundo. E temos a sorte dele ser brasileiro”, resume Richalison.
Nem foram necessárias as 72 horas que o médico Rodrigo Lasmar queria para dar mais tempo ao tornozelo direito de Neymar se recuperar da fortíssima torção que sofreu contra a Sérvia, dia 24 de novembro, na estreia do Brasil na Copa.
Lógico que não há milagre. Neymar correu, chutou, fez gol, comemorou, cantou mal, enfim, saiu do tratamento intensivo que fez no hotel, com a perna imobilizada. E depois na piscina.
Mas sua perna direita segue sendo reforçada para o que possa jogar o seu futebol de excelência contra os sul-coreanos.
Aos 30 anos e meio, vindo de contusão séria, Neymar já tem experiência, sabe como deve agir. Mas Tite reforçará que o que ele não poderá fazer será prender a bola, forçar dribles. Porque assim ficará mais sujeito a pancadas. Ele foi o jogador que mais sofreu faltas na primeira rodada da Copa. Foram nove no jogo diante dos sérvios.
Ou seja, Neymar deverá tocar mais a bola de primeira. O grande exemplo é o seu amigo particular e companheiro do PSG, Messi, faz na Seleção Argentina. Sabe que seria caçado em toda partida e trata de trocar passes. E, as poucas arrancadas que tenta aos 35 anos, acontecem quando os adversários não esperam, dão espaço.
Será dessa maneira que Neymar deverá atuar o resto da Copa. Já que seu tornozelo direito é um alvo vulnerável. E que já o deixou de fora várias vezes no Santos, Barcelona e PSG.
Neymar sorrindo, fazendo pose para o fotógrafo e cinegrafista da CBF já foi o suficente para tirar o foco do clima pesado após a derrota para Camarões, a primeira da história de uma equipe africana na Copa do Mundo.
O melhor jogador brasileiro sabe que a Copa já entra na sua reta final. Há as oitavas, quartas, semifinal e final, para as seleções sobreviventes.
Ele não quer o natural, que seria ficar no banco de reservas contra os sul-coreanos, jogadores de nível técnico inferior aos brasileiros. No último amistoso em junho, em Seul, o resultado foi 5 a 1 para a Seleção.
Só que Neymar deseja começar o jogo. Recuperar o tempo perdido. Foram duas partidas que ficou fora tratando do tornozelo.
É a vontade também de Tite.
Quem vai dar esse veredicto final será o médico Rodrigo Lasmar.
Se Neymar pode ou não suportar pancadas no tornozelo que teve seus ligamentos rompidos.
É uma situação difícil, mas que Neymar já passou por elas algumas vezes.
Por vezes jogou.
Outras ficou no banco.
O grande problema é que o Brasil precisa dele.
Além do reforço técnico excepcional, a dependência psicológica é ainda enorme.
Se ele não estava apenas cantando mal a excelente música de James Brown, e estiver mesmo bem, vai jogar.
Pode ser um risco.
Mas é o que Neymar quer, os jogadores querem.
E Tite precisa…
Créditos: R7.