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A Santa Muerte, cuja tradução literal é “Santa Morte”, tem atraído seguidores de diversas origens sociais e culturais no México. Este culto, que não é reconhecido oficialmente pela Igreja Católica Romana, é frequentemente associado a indivíduos marginalizados, como condenados, viciados em drogas e criminosos. Contudo, também é um refúgio espiritual para aqueles que enfrentam adversidades na vida. A representação desta santa como um esqueleto carrega um simbolismo profundo, prometendo proteção contra a morte aos seus devotos.
Um caso recente envolvendo a líder do culto, conhecida como “La Madrina Chayo”, destacou a complexidade e as tensões em torno deste fenômeno cultural. “La Madrina Chayo”, também chamada de Chayito, enfrentou um destino trágico junto a outros dois indivíduos, durante os preparativos para uma celebração anual da Santa Muerte em León, no estado de Guanajuato. O ataque culminou em mortes e ferimentos, ressaltando a violência que muitas vezes permeia ambientes já abalados por disputas territoriais ligadas ao narcotráfico.
Qual é o papel da Santa Muerte na sociedade mexicana?
A Santa Muerte desempenha um papel multifacetado na sociedade mexicana. Funciona como um símbolo de resistência, proteção e, paradoxalmente, de esperança para muitos que se sentem à margem do sistema social tradicional. Embora suas raízes sejam consideradas não-canônicas pela Igreja Católica Romana, a devoção continua a ganhar impulso. Os fiéis buscam intervenção divina em questões que vão desde proteção pessoal até a melhora em suas condições de vida.
Grandes cerimônias são realizadas anualmente nos dias 1 e 2 de novembro, refletindo uma conexão cultural com o Dia dos Mortos. As homenagens incluem oferendas e celebrações que se assemelham a festividades populares, onde os fiéis recebem afetuosamente novos seguidores, criando um ambiente de aparente harmonia e solidariedade.
Diferença entre o Culto La Santa Muerte e o Día de Los Muertos
O culto a La Santa Muerte e o Dia de los Muertos são duas tradições distintas no México, embora ambas envolvam a morte e a celebração dos falecidos. Aqui estão as principais diferenças:
Culto a La Santa Muerte:
- Personificação: La Santa Muerte é uma figura que representa a morte e é frequentemente retratada como uma esqueleto feminino, vestida com um manto. Ela é considerada uma santa por muitos, apesar de sua associação com a morte.
- Veneração: Os devotos de La Santa Muerte a consideram uma protetora, pedindo sua intercessão em questões de saúde, amor, dinheiro e proteção. Os cultos podem incluir altares com oferendas, orações e rituais.
- Origem: A devoção a La Santa Muerte é uma prática mais recente, que ganhou popularidade nas últimas décadas, especialmente entre comunidades marginalizadas. Ela é frequentemente associada a temas de vida, morte e renascimento.
Dia de los Muertos:
- Celebração: O Dia de los Muertos, celebrado em 1 e 2 de novembro, é uma festividade que honra e lembra os entes queridos falecidos. É uma celebração alegre e colorida, que busca manter a conexão com os mortos.
- Tradições: As famílias montam altares (ofrendas) com fotos, alimentos e objetos que os falecidos apreciavam. A festa inclui danças, música, e visitas aos cemitérios, onde as pessoas decoram os túmulos.
- Origem: Esta tradição tem raízes nas antigas culturas mesoamericanas, como os astecas, e foi incorporada ao catolicismo, criando uma fusão de crenças.
Enquanto o culto a La Santa Muerte é uma devoção pessoal e muitas vezes associada a pedidos de proteção e favores, o Dia de los Muertos é uma celebração comunitária que honra os mortos de forma festiva e espiritual. Ambas refletem a relação única do povo mexicano com a morte, mas em contextos e práticas diferentes.
Polêmicas e controvérsias envolvendo a Santa Muerte
A Santa Muerte há muito tempo é motivo de controvérsia, especialmente devido à sua vinculação com atividades ilícitas. As autoridades espirituais e políticas frequentemente expressam preocupação sobre sua associação com a criminalidade e a violência. Relatos indicam que devotos pedem auxílio não só para proteção pessoal, como também para o êxito em empreendimentos ilegais como o narcotráfico.
Mesmo diante destas acusações, muitos praticantes defendem que sua devoção não é diferente de qualquer outra busca por amparo espiritual, sendo uma tentativa de sustentar a fé em tempos difíceis. As celebrações também trazem aspectos positivos, promovendo a unidade entre os seguidores que compartilham um sentido comum de proteção e esperança.
Quais são os desafios enfrentados pelos seguidores da Santa Muerte?
Os seguidores da Santa Muerte enfrentam uma série de desafios, desde preconceito social até problemas legais. Em lugares como Guanajuato, a violência atribuída a disputas territoriais entre cartéis de drogas complica ainda mais a situação. O envolvimento de figuras proeminentes do culto em episódios violentos, como o ocorrido com “La Madrina Chayo”, intensifica a estigmatização pública da devoção.
Contudo, muitos persistem em sua fé, justificando que a Santa Muerte é uma fonte de força e resiliência em um mundo cheio de adversidades. O culto desafia as normas tradicionais religiosas e sociais, mas, ao mesmo tempo, oferece uma rede de apoio que muitos consideram indispensável.
Em suma, a Santa Muerte representa uma complexa interseção entre religião, identidade cultural e questões sociais no México. À medida que o culto se expande, ele continua a atrair tanto adeptos quanto críticos, refletindo os diversos aspectos da sociedade mexicana contemporânea.