Para o economista Hetori Sanchez seria possível realocar gastos dentro do limite para cumprir as metas sociais do novo governo
A PEC do Rombo, que retira do teto de gastos os benefícios sociais, tem custos estimados em R$ 175 bilhões para 2023. A proposta não foi bem recebida pelo mercado financeiro. O anúncio fez o dólar subir para R$ 5,46 e a B3 cair quase 3%. Nesse sentido, o economista Hetori Sanchez acredita que a proposta não é prudente: “Não é algo que a gente pode classificar como prudente. Teria espaço para ser remanejado o orçamento. As finanças brasileiras comportariam um dispêndio de tal ordem? Evidentemente que sim, visto que nós temos um PIB de R$ 7 trilhões. Entretanto, rever a eficiência de gastos, revê a alocação de recursos, é muito mais complexo do que, simplesmente, contornar os instrumentos de controle fiscal. Então, vamos caminhando para o fim do governo Bolsonaro e início do governo Lula com uma perspectiva expansionista não muito sustentável”. Nesta semana, parlamentares devem criar uma comissão mista informal para elaborar um novo texto da PEC do rombo, de forma que ele fique mais aceitável para ser aprovado pela maioria no Congresso Nacional.
Sanchez também diz que o comportamento negativo do mercado se deu por conta de declarações feitas pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O fato é que o Brasil, não só por conta da PEC, mas também as declarações do presidente eleito, foram bem incisivas. E trouxeram uma dicotomia não muito direta. Ele trouxe que faria os gastos sociais independentemente da responsabilidade fiscal, como se houvesse uma relação de antagonismo, quando, na verdade, não há. Eu diria que há uma relação de uma simbiose, para não dizer mutualismo, entre os gastos sociais e a responsabilidade fiscal. Porque, no final das contas, não se trata de uma responsabilidade a esmo. A gente está falando inclusive da durabilidade do quão perene serão os programas sociais, de olho no fiscal. Então, se a gente faz um expansionismo, um avanço nos gastos sem essas responsabilidade, a chance de que haja uma reversão nesse potencial gasto também é grande. E, aí, a conta chega severa”, afirma.
Segundo o economista, a PEC do rombo pode elevar a dívida bruta do país e resultar na alta da inflação. “É evidente que, proporcionalmente, os paupérrimos vão abrir mais a mão do consumo, serão mais afetados pela inflação, serão mais afetados pelo desemprego, até por não ter a disponibilidade de um mecanismo de defesa, seja por meio das finanças ou de múltiplas fontes de renda. Então, a conta chega principalmente pela inflação e pelo desemprego”, opinou.