O Tesouro Direto suspendeu a negociação dos títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) e prefixados após a forte alta das taxas diante do aumento do risco fiscal no Brasil. Por volta das 11h40, houve a suspensão da negociação desses papéis. Apenas a permissão para a compra de títulos pós-fixados atrelados à taxa Selic (Tesouro Selic) permaneceu.
Quando a volatilidade das taxas dos papéis sobe muito, o Tesouro suspende a negociação.
A alta das taxas é impulsionada por aumento da preocupação com a expansão de gastos no próximo governo. O governo negocia uma PEC (Proposta de Emenda Complementar) para abrir espaço no Orçamento de 2023 e acomodar despesas como a manutenção do Bolsa Auxílio em R$ 600 fora do teto de gastos (medida que limita a ampliação dos gastos do governo à inflação). O efeito esperado é de um gasto adicional de R$ 175 bilhões, acima do esperado pelo mercado.
Além disso, comentários do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ontem e nesta quinta-feira (10) sobre o privilégio que dará aos gastos sociais, que na visão dele são “investimentos”, também trouxeram a dúvida sobre o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.
Para Fábio Guarda, sócio e gestor da Galapagos Capital, essa política tem consequências negativas no médio prazo. “Lula fez um discurso inflamado, mostrando uma visão míope e de curto prazo. Os países que escolheram priorizar a estabilidade social ao invés do fiscal, como a Venezuela, sofrem consequências maiores”, diz.
Segundo ele, o mercado ainda está leniente com o novo governo, aguardando os detalhes da PEC da Transição e o anúncio da equipe econômica, principalmente do ministro da Fazenda, que só deve sair quando Lula voltar da COP 27, em dez dias.