O Supremo Tribunal Federal (STF) deu mais um passo no cenário previdenciário brasileiro ao rejeitar os recursos que visavam a concessão da revisão da vida toda para aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Em sessão recente, os ministros Kassio Nunes Marques, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia votaram a favor de manter a decisão tomada em março de 2023, que foi desfavorável para essa tese de revisão.
Os embargos de declaração, recursos apresentados para esclarecer ou modificar pontos específicos de uma decisão judicial, foram negados pelos ministros. Entidades de classe e representantes dos segurados buscaram com esses recursos reverter a decisão de março ou, pelo menos, atenuar seus efeitos.
O que é a Revisão da Vida Toda?
A revisão da vida toda consiste na recalculação dos benefícios previdenciários dos aposentados considerando todas as contribuições feitas ao INSS ao longo de sua vida laboral, inclusive as anteriores a julho de 1994. A ideia surgiu para corrigir distorções geradas pela reforma da Previdência de 1999, que prejudicou muitos segurados que já contribuíam para o sistema.
Em 2022, o STF decidiu em favor da revisão, reconhecendo que a inclusão de todas as contribuições tornaria o cálculo mais justo para muitos aposentados. No entanto, essa decisão foi revertida em março de 2023, gerando controvérsias e frustrações entre os beneficiários.
Impactos financeiros da Revisão da Vida Toda
Um dos pontos centrais da discussão são os impactos financeiros estimados da revisão. O governo federal argumenta que a revisão resultaria em um custo de aproximadamente R$ 480 bilhões. Em contrapartida, o Instituto de Estudos Previdenciários (Ieprev), que entrou com um dos embargos, defende que o custo seria significativamente menor, perto de R$ 3,1 bilhões. Essa diferença de valores é um dos principais argumentos utilizados por aqueles que defendem a revisão.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) também se posicionou a favor da revisão ao apresentar um recurso. A CNTM propõe que, caso a revisão não seja geral, pelo menos seja garantida a correção para os segurados que já possuem ações judiciais, possibilitando o reajuste dos benefícios e o pagamento dos valores atrasados.
Qual é a posição do STF sobre a Revisão da Vida Toda?
Kassio Nunes Marques, relator dos embargos, votou contra os recursos, afirmando que não houve erro ou omissão na decisão de março de 2023. Segundo ele, o entendimento de 2022, que apoiava a revisão da vida toda, não condizia com uma decisão anterior do STF de 2000. Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia concordaram com essa posição, fortalecendo a tendência de manter a decisão atual.
Os votos dos ministros restantes, como Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, André Mendonça, Alexandre de Moraes e Edson Fachin, ainda estão pendentes, o que deixa espaço para mudanças no desfecho final do julgamento.
Histórico e perspectivas futuras
Em dezembro de 2022, o STF havia tomado uma decisão favorável à revisão da vida toda, reconhecendo o direito dos segurados a um cálculo mais justo de seus benefícios. No entanto, em março de 2023, essa decisão foi revertida, causando surpresa e decepção entre os aposentados e suas representações.
O debate sobre a revisão da vida toda é uma questão que equilibra a sustentabilidade financeira do sistema previdenciário brasileiro com a justiça nos benefícios dos segurados. A continuação do julgamento até o dia 30 de agosto será observada atentamente por milhões de aposentados e entidades de classe que aguardam uma definição final sobre o tema.
Expectativas do plenário do STF
João Badari, advogado do Ieprev, espera que o tema seja revisitado em uma sessão presencial do STF. Para ele, a complexidade do assunto e os impactos econômicos envolvidos justificam um debate mais aprofundado no plenário físico, em vez de ser decidido apenas no ambiente virtual.