Bárbara Destefani, 36 anos, comunicadora, é a idealizadora do Te Atualizei, canal político com mais de 1,7 milhão de inscritos no YouTube. Mineira de BH, casada e mãe, escreveu um artigo de opinião sobre os motivos de votar em Bolsonaro no segundo turno. Veja a íntegra a seguir.
Em 2016, o que eu sabia de política era o que a maioria dos brasileiros que diziam gostar de política sabiam: só o que deixavam. Meu programa de informações era a Globonews, que em 2016 mantinha o tema corrupção no ar 24h por dia.
Um cara correndo com uma mala de dinheiro aqui; um monte de dinheiro na cueca ali; ministros sendo presos num dia e no outro eram presos os diretores de estatais. Revisitando esse tempo na minha cabeça, lembro que aquela situação parecia assustadoramente normal. A minha geração (muito jovem no Mensalão), cresceu assistindo às cleptocracias como se fossem uma forma normal de governar.
Me lembro de sentir um nó na garganta acompanhado de uma sensação de impotência. O que eu poderia fazer contra um sistema estabelecido e de raízes fincadas? O nosso plano de 2014 era apoiar o Aécio (PSDB-MG), que pouco tempo depois mergulhou no escândalo da JBS e simplesmente sumiu.
“Como fui ingênua”, repeti para mim mesma. Mas, na verdade, eu havia sido uma trouxa. Uma idiota útil. Eles eram todos amigos e no mesmo barco, eu só ainda não sabia. Ainda…
Assistindo à Lava Jato avançar com suas operações que mais pareciam episódios de série policial, uma coisa ficou clara: não tinha para onde correr. Não tinha para onde fugir. Era uma vergonha! Precisávamos pedir desculpas aos indígenas e ir embora.
O Brasil se tornou o país da corrupção institucionalizada. Não faria diferença em quem votar e o roteiro não iria mudar. Nós éramos apenas pagadores de impostos sobreviventes no mar de lama moral que nossa tão jovem e sofrida democracia se afogava.
Porém, a jovem do Mensalão cresceu e se tornou a adulta da Lava Jato. E essa adulta tinha uma prioridade maior do que “viver tudo que há para viver” enquanto desse. Agora eu era mãe. Eu entendi que havia uma herança mais importante do que dinheiro a ser deixada para os meus filhos. Essa adulta começou a questionar os métodos impostos pela “democracia” apresentada. E essa adulta entendeu que, na verdade, estava tudo errado.
Assisti (por mais de uma vez) os depoimentos de Palocci, Emílio Odebrecht, Pedro Côrrea, Leo Pinheiro, Delcídio Amaral, Renato Duque, entre outros. Todos relataram o mesmo elo e, por fim, todas as histórias eram iguais. Só mudava um ou outro personagem; todos delataram o mesmo cara e esse cara era o Lula (PT).
Depois da corrupção do Brasil ser exposta explicitamente, ficou claro: o rei estava nu.
Esse texto é apenas um pequeno resumo da indignação que corre nas minhas veias enquanto escrevo. Estou ignorando vários fatos importantes. Contra a minha vontade, estou lutando contra as linhas que me restam, entendendo que não conseguirei falar sobre Pasadena.
A conclusão a que cheguei (quando ter conclusões não era considerado uma desordem informacional), foi a de que o povo fora tomado de assalto em nome de um projeto de poder, o que é muito diferente de um projeto de nação. Lula resistiu por 2 dias antes de se entregar para a polícia. Dizia-se inocente. Todos estavam errados; todos mentiram sobre aquele que, em suas próprias palavras, dizia:
“Eu sou a alma mais honesta do Brasil!”
Eu me recuso a esquecer qualquer detalhe daquele momento em que acreditávamos estar, pela 1ª vez, experimentando a verdadeira justiça. A vitória do povo. Tínhamos a esperança em nossos corações. Um grito preso enfim era liberado. Com um megafone na mão, à frente da tropa, estava Bolsonaro (PL). Falando agora dele, o presidente que menos pôde ser presidente desde que esse país se tornou uma República.
Lembram quando eu disse que na vida adulta a sensação foi de olhar e sentir que tudo estava errado? Em uma linguagem extremamente popular e até grotesca, porém de fácil entendimento, a população entendeu que aquele cara era o fator definitivo de mudança no país.
Depois da nação ser sequestrada pelo teatro das tesouras por décadas, enfim, a verdadeira oposição à “propinocracia” se levantava. Um grosseirão contra um establishment desonesto.
Teve quem torcesse o nariz; teve quem não acreditasse. Mas teve também aqueles que abraçaram a única figura de representação do grito que foi suprimido na nossa garganta por anos. Foi nesse último barco que eu entrei e, quando olhei para o lado, vi que, ao contrário do que me diziam, eu não estava sozinha. Cinquenta e sete milhões de pessoas estavam comigo. A sensação era de um almoço de domingo em família.
Mas a verdade é que não estávamos preparados para o que viria. Promovemos uma mudança jamais antes vista na história desse país. Subimos ao mais alto cargo desse comando, mas chegando lá, de um jeito doloroso, entendemos que estávamos jogando na casa e nas regras do adversário. Um governo impossibilitado de governar. As amarras criadas pelo sistema tornavam o jogo muito duro. O presidente decretava e o Congresso derrubava. Não se julgava o certo, nem o errado, nem o viável ou inexequível. A arma era sempre a narrativa.
Olhando para trás, é nítido o entendimento dos poderosos de que no pós-Lava Jato, o poder seria dos tucanos naquele revezamento falso da oposição histórica (a estratégia das tesouras, de Lênin). Bolsonaro foi “a pedra no sapato” não prevista. Num momento desses, o que fazer?
Não acredito que o plano principal era de fato tirar a máscara e assumir que os opositores históricos sempre estiveram do mesmo lado. Contudo, não era apenas uma questão de planejamento: a máscara foi arrancada!
O Alckmin (PSB), em 2018, dizia:
“O Lula quer voltar à cena do crime!”
Agora, ele pega o acusado pela mão e pede voto para que ambos retornem àquela cena.
A “Justiça” do país entrou em campo para assegurar que existiria um kraken solto, capaz de devorar Bolsonaro. E esse kraken teria toda a ajuda possível para isso.
Perante o ataque brutal do sistema, Bolsonaro hesitou em responder com a total força de um chefe de Estado. Acredito que ele sempre tentou afastar a pecha de ditador que sempre pregaram nele. Ele sempre quis mostrar que dava para fazer diferente. Porém, o sistema sempre deixava claro que o diferente era o próprio presidente. Ele não era bem-vindo.
O meu sentimento é de que Bolsonaro é um cara de bom coração, de choro fácil, escondido atrás de uma postura militar, que agora veste um terno. Bolsonaro jamais seria um cliente da Prada. Bolsonaro jamais ficaria confortável em sentar à mesa com o Zé Dirceu (mesmo sendo ele o major Daniel no Exército cubano) em nome da governabilidade.
Alckmin sentou-se com o Lula. O “Judiciário” abençoou.
E aqueles que sabem da força política que é o Bolsonaro, uniram-se para, de alguma forma, derrubar o único honesto dentro de um sistema imundo, mas tudo disfarçado em frases polidas e com perfume caro. Os velhos políticos querem ter uma chance no futuro, chance que não virá enquanto Bolsonaro for o símbolo dos “novos tempos”.
Não sei se, olhando para trás, o Bolsonaro que hoje é mais maduro e consciente politicamente, como todos nós, faria diferente. Mas eu tenho certeza de que o próximo mandato não será igual. Às vezes ouço um ou outro apoiador do presidente dizer que “ele não conseguiu fazer tudo que queria”, e para esses, deixo a percepção de um jornalista opositor:
“Bolsonaro fez exatamente o que disse que faria, os pais e mães não voltarão atrás, os pais e mães terão filhos, e passarão para seus filhos a mudança que eles acreditam ser a benéfica. O bolsonarismo está enraizado e veio para ficar”.
Ninguém, jamais, sem o uso da força e supressão de liberdades, poderá mudar o que começou em 2018. Chegamos engatinhando, aprendemos a andar e em 2023 vamos correr. Eu não acredito nisso, eu tenho certeza. Como já dizia Einstein: “Uma mente que se expande, jamais volta ao seu tamanho original”. Nós apenas começamos.
Créditos: Poder 360.