O defensor público Paulo Marra sofreu uma perseguição parecida à vivida pelo jogador de vôlei Maurício Souza. Após compartilhar um post no Facebook crítico ao fato de a DC Comics ter caracterizado o atual Super-Homem como bissexual, em outubro de 2021, Marra virou alvo do Grupo de Trabalho Identidade de Gênero LGBTI (GT LGBTI) da Defensoria Pública da União (DPU). A pressão foi tanta que ele teve de pedir exoneração do cargo para não sofrer as consequências de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD).
O post não era dele e foi compartilhado por muitas pessoas na época. A imagem trazia o Super-Homem e a Mulher Maravilha, com um bebê, e tinha como legenda “homem é homem… mulher é mulher… menino é menino… menina é menina… o que passa disso é desvio moral, doença e iniquidade”.
“A polêmica da época era o perigo de sexualização de crianças”, explicou Marra. “Cada um escolhe sua vida, mas distribuir produtos de sexualização para crianças eu sou contra; sexualização de crianças para mim sempre vai ser errado, não tem sentido ensinar beijo gay para criança em história em quadrinhos”, disse.
Como era conhecido pelo cargo que exercia na DPU, Assessor-chefe da Assessoria de Integridade de Gestão Executiva, ligado à Secretaria-Geral Executiva, o GT LGBTI, estimulado por deputados e senadores que apoiam o ativismo LGBT, pediu a abertura do PAD. O assunto ficou esquecido até poucas semanas atrás, quando Marra colocou em seu status do WhatsApp uma imagem de Lula com o boné CPX. A crítica ao PT acabou sendo comentada em uma coluna de um jornal de Brasília, relembrando o post do Super-Homem. “Eu não publiquei aquilo em rede social, mas depois dessa exposição voltaram as pressões contra mim”.
Poucos dias depois, com o risco iminente de ser citado em um PAD, orientado pelos superiores e colegas ele acabou pedindo exoneração do cargo. “É uma decisão sumária: as pessoas que não concordam com o que as pessoas do grupo de trabalho LGBTI decidem ou querem sofrem essas consequências. É lógico que tem de defender as minorias, a defensoria tem um trabalho bonito para entender os hipossuficientes, os quilombolas, os LGBTs e outros grupos, eu concordo com isso, a minha divergência é com a sexualização de crianças. Não tem sentido acabar prejudicar uma pessoa, iniciar um PAD por esses motivos”, lamentou.
Procurada, a Defensoria Pública da União não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Gazeta do Povo