Os sentimentos que experimentamos são frequentemente o resultado de reações químicas em nosso cérebro. Perto de uma paixão ou de um amigo querido, podemos sentir excitação, atração, alegria e afeto. No entanto, será que esses sentimentos e reações químicas resumem tudo o que é amar? O amor é puramente um sentimento ou é algo mais profundo?
Como filósofa que estuda o amor, muitas vezes me pergunto se ele é apenas um produto de reações químicas ou se envolve escolhas e práticas que podemos controlar. Sentimentos como conforto e confiança evoluem com o tempo, mas será que eles definem inteiramente o que é amar?
Será que o amor é mais do que um sentimento?
O filósofo grego Platão acreditava que, embora o amor possa causar sentimentos intensos de atração e prazer, estes estão fora do nosso controle. Para Platão, o verdadeiro valor do amor está nos relacionamentos que escolhemos formar e em como apoiamos uns aos outros para mudar e crescer com o tempo.
Aristóteles, discípulo de Platão, também considerava que relacionamentos baseados em prazer são menos valiosos do que aqueles baseados na boa vontade e nas virtudes compartilhadas. Ele argumentava que esses últimos são mais duradouros, ao contrário dos relacionamentos que dependem exclusivamente dos sentimentos que podem desaparecer rapidamente.
Qual é a verdadeira natureza do amor?
Imagine estar em um relacionamento onde a única coisa que vocês têm em comum é gostar de jogar videogame. Se um de vocês deixar de gostar disso, possivelmente o relacionamento acabará. Em contraste, um relacionamento baseado na admiração mútua e na vontade de ver o outro prosperar tem muito mais potencial de durar.
Platão e Aristóteles sustentavam que o amor verdadeiro é um vínculo entre pessoas que se respeitam profundamente e escolhem apoiar umas às outras ao longo da vida. Portanto, talvez o amor não esteja totalmente fora de nosso controle.
O filósofo contemporâneo J. David Velleman sugere que o amor vai além dos sentimentos de admiração e afeto – ele é um tipo especial de atenção que celebra a individualidade de uma pessoa. Velleman defende que, quando amamos alguém, valorizamos quem esta pessoa é em sua essência.
O psicólogo social Erich Fromm argumenta que amar é uma habilidade que precisa ser praticada. Assim como aprendemos a tocar um instrumento, podemos aprimorar nossa capacidade de amar com prática, concentração e disciplina. Ouvir atentamente e estar presente são habilidades que, quando desenvolvidas, aumentam nossa capacidade de amar.
Até que ponto podemos controlar o amor?
Logo, se o amor é uma prática, é diferente de simplesmente realizar uma atividade. Não é apenas sobre os sentimentos que ele desperta, mas também sobre as ações e atitudes que adotamos em relação à pessoa amada. Pode parecer assustador, mas isso significa que o amor está sob nosso controle mais do que pensamos.
Amar alguém envolve muito mais do que sentir borboletas no estômago. Envolve escolhas conscientes de como agir e que valores adotar. Portanto, o amor verdadeiro vai além dos sentimentos passageiros e se manifesta em práticas diárias de respeito, empatia e presença.
Em suma, os sentimentos causados por reações químicas no cérebro não resumem o que é o amor. O amor envolve práticas e escolhas conscientes que moldam a maneira como nos relacionamos com outras pessoas. É uma habilidade que pode ser aprimorada, um vínculo que podemos escolher fortalecer diariamente.
Então, ao refletir sobre os sentimentos e a essência do amor, pode-se concluir que ele é tanto uma experiência emocional quanto uma prática deliberada e intencional.