O VAR no Brasil é “arcaico”? Para Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, não há dúvidas na resposta. Motivo de críticas da comissão técnica nos dois últimos confrontos com o Flamengo, pela Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, ele gera debates entre atletas, clubes e na própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que trabalha para investir em novas tecnologias para o jogo. Mas de fato, quais as diferenças entre as linhas traçadas no País e no resto do mundo?
“Chegamos a fazer um gol, mas que foi mais uma vez anulado por um detalhe. Volto a dizer: não acredito e nem confio nas linhas do VAR. Não acredito e nem confio nas televisões. Enquanto não comprarem os aparelhos que são fidedignos e necessários, eu não acredito. A tecnologia que o futebol brasileiro usa é arcaica”, exclamou Abel, em entrevista coletiva logo após empate por 1 a 1 com o rival rubro-negro. O Palmeiras teve um gol de Flaco López anulado por impedimento milimétrico, enquanto o Flamengo teve seu gol, marcado por Luighi, analisado e confirmado pelo VAR.
Diferenças Tecnológicas Entre Brasil e Europa
A Hawk-Eye é a empresa responsável pelo VAR no Brasil, mas ela também fornece as tecnologias para a Fifa e para a Uefa, em competições como Copa do Mundo e Champions League. Nos casos de impedimentos, as câmeras ao redor do campo possibilitam que os árbitros de vídeo marquem as linhas e sinalizem a infração.
O único ponto que torna o VAR brasileiro “arcaico” em relação ao europeu é a tecnologia do impedimento semi-automático, testada pela primeira vez, em larga escala, na Copa do Mundo Catar. Nela, os lances de análise mais difícil são esclarecidos rapidamente e de maneira mais consistente, com base no rastreamento dos jogadores e da bola. O árbitro de vídeo não precisa traçar as linhas manualmente, já que o sistema entrega por conta própria, e comunica ao juiz do campo. Em seguida, são produzidos gráficos em 3D, exibidos no estádio e nas transmissões de televisão.
Como Funciona a Tecnologia de Impedimento Semi-Automático?
A Fifa explica que a tecnologia utiliza 12 câmeras de rastreamento da bola e cobre até 29 pontos de dados de cada jogador, enviando à sala de vídeo 50 quadros a cada segundo, o que gera a posição exata de cada atleta no campo. Além do impedimento semi-automático, o VAR no Brasil é semelhante àquele utilizado na Europa. Portanto, Abel Ferreira não está completamente
John Textor, proprietário do Botafogo, é outro crítico da tecnologia do VAR no futebol brasileiro. Em junho de 2024, ele se comprometeu a investir, com seu próprio dinheiro, em câmeras que possibilitem à CBF adotar o modelo de impedimento semi-automático. Dois meses depois, a ideia do magnata do Botafogo não saiu do papel, evidenciando a dificuldade de implementação dessa tecnologia no país.
Por que o Brasil não tem Impedimento Semi-Automático?
Em um mundo ideal, todos os campeonatos contariam com esta tecnologia. Mas além de competições entre seleções, como Eurocopa e Copa do Mundo, e a Champions League, apenas a Premier League, na Inglaterra, passará a adotar a tecnologia a partir desta temporada.
A ideia de que o VAR passasse a contar com esse sistema foi ventilada na CBF. “A gente está levantando a possibilidade de utilizar. Tirar da mão do humano”, revelou Wilson Seneme, presidente da comissão de arbitragem, em 2024. No entanto, segundo apurou o Estadão, não há como transformar este desejo em realidade – pelo menos atualmente.
Custos e Infraestrutura
Além dos custos, o maior impeditivo é a complexidade e a operação para implementar as câmeras em todos os estádios da Série A do Campeonato Brasileiro. Além daqueles que receberam a Copa do Mundo de 2014, poucos seriam viáveis para colocar a tecnologia em prática. Pela infraestrutura necessária e pela complexidade da operação envolvida, o investimento se torna uma barreira.
Na prática, estas câmeras especiais precisam ser colocadas no teto de cada um dos estádios do Brasil de forma fixa. Atualmente, o VAR utiliza as câmeras das transmissões do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e demais competições. Pela maioria das arenas serem privadas e as câmeras necessitarem de manutenções constantes, o custo teria que ser arcado, pelo menos em uma parte, pelos clubes.
O cenário atual mostra que, apesar dos esforços e da vontade de modernizar a tecnologia do VAR no Brasil, ainda há muitos desafios a serem enfrentados. Abel Ferreira e outros críticos continuarão a pressionar por melhorias, na esperança de que, um dia, o futebol brasileiro possa contar com as mais avançadas tecnologias disponíveis, garantindo a justiça e a precisão que o esporte merece.