Na última sexta-feira, 9 de agosto de 2024, a queda de um avião da Voepass Linhas Aéreas em Vinhedo chocou o país. O trágico acidente deixou 62 mortos e levantou várias hipóteses sobre as causas do evento. Uma das principais linhas de investigação, segundo especialistas em segurança de voo, é a formação de gelo nas asas da aeronave.
O voo 2283, que partiu de Cascavel (PR) com destino ao aeroporto de Guarulhos (SP), estava com 58 passageiros e quatro tripulantes a bordo. O acidente ocorreu por volta das 13h20, e não houve sobreviventes. Em uma coletiva de imprensa, a Voepass destacou que os sistemas da aeronave estavam funcionando no momento da decolagem, mas afirmou não ter informações sobre as causas do desastre.
O que podemos aprender sobre a formação de gelo nas asas de aviões?
Marcel Moura, diretor de operações da Voepass, não descartou a possibilidade de congelamento nas peças do avião. “O avião é sensível ao gelo. Pode ser um ponto de partida (na investigação), mas ainda é cedo para saber”, disse em coletiva à imprensa. Já o CEO da empresa, Eduardo Busch, destacou que apontar as causas do acidente neste momento seria “mera especulação”.
Como a formação de gelo afeta a segurança de voo?
Especialistas, como Celso Faria de Souza, perito criminal especializado em acidentes aeronáuticos, acreditam que a formação de gelo nas asas ou na cauda pode ser uma forte linha de investigação. De acordo com Faria de Souza, as condições atmosféricas no local do acidente indicavam a possibilidade de severa formação de gelo, conforme relatado por vários pilotos e sites de monitoramento de voo.
- As condições meteorológicas adversas na área incluíam alertas de formação de gelo severo entre 3,6 mil e 6,4 mil metros de altura.
- Imagens do acidente mostram a aeronave caindo de maneira descontrolada, característico de perda de eficiência da asa.
- Instrutores e guias da Força Aérea Brasileira (FAB) destacam que a formação de gelo pode destruir o fluxo suave do ar, afetando a sustentação do voo.
Quais são os sistemas de prevenção de gelo utilizados em aeronaves?
Segundo o engenheiro aeronáutico, aeronaves modernas possuem sistemas avançados para evitar a formação de gelo. Alguns aviões possuem um revestimento de borracha inflável nas asas que quebra o gelo, enquanto outros utilizam mecanismos anti-gelo que redirecionam ar quente da turbina para aquecer a asa. No entanto, a aeronave ATR-72 da Voepass tinha um sistema de degelo, mas não está claro se houve falha no mecanismo ou se as condições climáticas eram severas demais.
Em 1994, a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos proibiu voos de ATR em condições de muito gelo após um acidente em Indiana, demonstrando a vulnerabilidade desses modelos em determinadas condições climáticas. Outro incidente notável ocorreu em 2009 com um Airbus A330 da Air France, que caiu após os tubos pitot congelarem, levando à perda de informações críticas de velocidade e altitude.
Qual é o próximo passo na investigação do acidente da Voepass?
A análise das caixas-pretas, já recuperadas e aparentemente preservadas, trará respostas concretas sobre as causas do acidente. A investigação preliminar é baseada em hipóteses e imagens de vídeo, que apontam para uma possível perda de sustentação (estol) devido ao gelo.
- Recuperação e análise das caixas-pretas pela equipe de investigação.
- Compreensão das condições meteorológicas e seu impacto na aeronave.
- Estudo do desempenho dos sistemas de degelo a bordo do ATR-72.
De acordo com documentos da FAB, a formação de gelo pode ocorrer em qualquer fase do voo, sendo mais frequente no outono e inverno. Os guias para pilotos destacam que sob condições severas de gelo, a continuidade do voo pode tornar-se impossível.
Este trágico evento relembra a importância da segurança aérea e dos sistemas de prevenção de gelo em aeronaves comerciais. A comunidade aeronáutica aguarda ansiosamente os resultados da investigação para prevenir futuros acidentes e melhorar a segurança nos céus.