Apesar de manifestações de otimismo, tensão aumentou no PT com subida de Bolsonaro no Sudeste e entre quem recebe Auxílio Brasil
A campanha de Lula deve aumentar os ataques contra Jair Bolsonaro depois da divulgação da pesquisa Datafolha, que mostra o petista estacionado, com 49%, e o presidente oscilando um ponto para cima, de 44%, na semana passada, para 45% na sondagem divulgada na quarta (19).
Apesar da aparente estabilidade, a pesquisa mostrou dados preocupantes para o PT: Lula caiu de 62% para 56% entre quem recebe o Auxílio Brasil, enquanto Bolsonaro subiu de 33% para 40% no momento em que o governo intensifica a concessão de crédito consignado ligado ao benefício.
É a primeira vez que Lula perde votos neste segmento do eleitorado desde que a pesquisa começou a ser divulgada, no primeiro turno.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União já pediu a suspensão do consignado oferecido pela Caixa Econômica Federal, por ver intenção meramente eleitoreira na iniciativa. Os empréstimos, no entanto, continuam a ser oferecidos.
Apenas a Caixa Econômica Federal (CEF) despejou R$ 1,8 bilhão em empréstimos para 700 mil pessoas. O valor médio do crédito consignado do Auxílio Brasil é de R$ 2.600.
Uma outra má notícia para o petista: Bolsonaro está ganhando votos no Sudeste.
Ele subiu de 47% para 50% da preferência eleitoral na região em duas semanas, de acordo com o Datafolha, enquanto Lula permanece estacionado em todas as regiões.
Como a oscilação foi mínima em São Paulo (Lula passou de 44% para 43%, e Bolsonaro, de 46% para 47% entre os paulistas), a conclusão é que o presidente está ganhando terreno em estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Uma virada entre os mineiros a favor de Bolsonaro é considerada desastrosa pela campanha do PT, já que dificilmente Lula conseguiria compensar a perda no Sudeste, que concentra 43% dos eleitores, conquistando mais votos no Nordeste, que tem 27% do eleitorado.
O petista parece ter atingido o teto de votos na região. No começo de outubro, ele tinha 66% no Nordeste, segundo o Datafolha. Subiu para 68% em meados do mês, e agora oscilou para 67%.
Ainda vence com larga margem, já que Bolsonaro tem 29% dos votos nordestinos. Mas a margem para crescer é pequena.
Por isso, a decisão, sacramentada em uma reunião entre os diretores do programa de TV e rádio e a direção do PT, foi a de aumentar os ataques a Bolsonaro, usando inclusive imagens de bolsonaristas gritando com padres e desrespeitando fiéis católicos, cenas que têm se repetido em igrejas do Brasil.
Apesar das manifestações de otimismo de dirigentes do PT e de seus aliados pelo fato de Lula seguir em primeiro lugar nas pesquisas, a tensão aumentou nos bastidores. A possibilidade de uma virada de Bolsonaro já não é mais considerada impossível. Pelo contrário.
Já o presidente vai manter os ataques a Lula e segue apostando em um empate nas pesquisas. E na alta abstenção, que poderia desempatar o jogo a favor dele.
Ou seja, pessoas que declaram voto não aparecem no dia para votar, por enfrentarem dificuldades para chegar às seções eleitorais.
Historicamente, a abstenção é maior entre os eleitores de menor escolaridade e renda –justamente onde Lula tem mais votos.
A taxa de abstenção entre os analfabetos, por exemplo, foi de 52,08%.
Entre os que apenas sabem ler e escrever, ela chegou a 31,38%, um percentual superior à média de 20,9% de todo o eleitorado.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de liberar prefeituras e concessionárias para oferecerem transporte gratuito aos eleitores deu esperanças ao PT de conseguir minimizar o impacto da abstenção nas regiões mais pobres do país.