Requerimento é aprovado no mesmo dia em que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos pediu ao Ministério Público Federal mais 30 dias para explicar as declarações de ex-ministra
foto: Jorge William
A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou nesta terça-feira um requerimento de convite feito à ex-ministra Damares Alves, senadora eleita pelo Republicanos do DF, para que esclareça declarações que fez no último dia 9 sobre a prática de abusos sexuais contra crianças na Ilha do Marajó, no Pará.
O requerimento é de autoria do senador Carlos Fávaro, do PSD de Mato Grosso. Nele, o parlamentar pede que a ex-ministra informe “as providências que tomou ao descobrir os casos e se houve representação (denúncia) ao Ministério Público ou à polícia, bem como, a exposição de provas perante a sua fala”. Fávaro também ressalta que, no caso de as declarações serem falsas, a fala de Damares pode ter sido usada para “alimentar discurso de ódio e tumultuar o processo eleitoral”. “Em caso de omissão do governo, a ex-ministra deve ser investigada por prevaricação”, destacou o senador.
O convite ocorre no mesmo dia em que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos pediu ao Ministério Público Federal mais 30 dias para explicar as declarações de Damares sobre alegados abusos de crianças no Pará. O prazo inicial era de três dias.
A fala da ex-ministra aconteceu durante um culto na igreja Assembleia de Deus, em Goiânia. Na ocasião, Damares disse que crianças de 3 e 4 anos de idade da Ilha de Marajó eram traficadas e tinham seus dentes “arrancados pra elas não morderem na hora do sexo oral” e se alimentavam de comida pastosa “para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal”.
A afirmação fez com que o Ministério Público Federal do Pará pedisse informações ao ministério sobre a fala de Damares. A senadora eleita chegou a dizer que os relatos de abusos vieram de “conversas que eu tenho com o povo na rua”.
O MPF informou que atuou em quatro inquéritos para investigar denúncias sobre tráfico internacional de crianças na Ilha de Marajó desde 1992. Nenhum deles tem semelhança com as falas da ex-ministra.
“Damares não apresentou nenhuma evidência do que falava, nem contou ter tomado alguma providência para punir os responsáveis, o que seria sua obrigação como ministra de Estado. De fato, as afirmações da ex-ministra causam preocupação e perplexidade, em especial porque pode se tratar de informações sigilosas às quais se teve conhecimento em razão do cargo público que ocupava”, afirmou o senador Fávaro.