Preso na noite desta quinta-feira (13), Thiago Brennand, 42, foi solto em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, após pagar fiança e informar endereço fixo. Segundo seu advogado, Ricardo Sayeg, ele não pode deixar o país árabe sem comunicar a Justiça. A informação foi publicada pelo site G1 e confirmada pela Folha.
Assim, ele vai responder ao processo de extradição em liberdade. A defesa, no entanto, não informou o valor pago na fiança e os detalhes da prisão.
Brennand havia viajado para Dubai, no mesmo país, em 4 de setembro, horas antes de ser denunciado pelo Ministério Público de São Paulo sob suspeita de lesão corporal por agredir a modelo Alinny Gomes, 37, em uma academia e corrupção de menores –a denúncia por corrupção de menores se baseia na suspeita de que ele teria incentivado o filho adolescente, que presenciou a agressão, a ofender a modelo.
Ele foi detido pela polícia nacional dos Emirados Árabes, com auxílio da Interpol, após entrar na lista de foragidos por não retornar ao Brasil no prazo estipulado pela Justiça.
Após a repercussão do episódio na academia, que foi gravado, Brennand passou a ser acusado de crimes sexuais por ao menos 11 mulheres, que relatam desde supostos estupros a rituais para tatuar suas próprias iniciais no corpo das vítimas.
A maior parte da lista de vítimas é conduzida pelo escritório de advocacia Janjacomo e por representantes do projeto Justiceiras, que combate a violência contra a mulher.
Nesta sexta, o Ministério Público paulista formalizou uma segunda denúncia contra Brennand, agora relacionada a esses novos relatos. A Promotoria de Porto Feliz (a 118 km de São Paulo) afirma que ele cometeu em uma mesma vítima cinco crimes: estupro, cárcere privado, tortura, lesão corporal de natureza gravíssima e coação no curso do processo. A Justiça aceitou acusação, o que o torna réu novamente.
A suspeita que culminou na nova denúncia é de agosto do ano passado e envolve uma brasileira de 37 anos, que vive nos Estados Unidos e afirma ter sido mantida em cárcere privado na casa de Brennand em Porto Feliz, além de ter sido estuprada, agredida (física e moralmente) e tido o corpo tatuado à força.
Ela diz ainda que o empresário vazou vídeos de relações sexuais com ela, que teriam sido enviados até para a filha adolescente dela.
A investigação conduzida pela Promotoria de Porto Feliz chegou a ser arquivada em junho deste ano, por falta de provas. Foi reaberta, porém, após reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, divulgar um áudio do empresário em que ele fazia ameaças a essa vítima.
Na época, Brennand negou os crimes. Em depoimento, confirmou que teve relações sexuais com a mulher, mas disse que foi com o consentimento dela. Ele também afirmou que a suposta vítima teria “sede de fama” e foi vista em diversos locais sem ter pedido socorro ou manifestado comportamento estranho.
De acordo com o advogado Marcio Janjacomo Júnior, outras cinco novas queixas foram encaminhadas à Promotoria de Porto Feliz nesta sexta-feira. Segundo ele, mulheres acusam Brennand de crimes que envolvem estupro, perseguição, ofensa e difamação e ocorreram entre 2019 e 2022.
Janjacomo afirma que os novos casos aconteceram no estado de São Paulo e as denúncias foram encaminhadas para Porto Feliz como uma forma de acelerar o processo e triagem das novas vítimas.
O suspeito de crimes é herdeiro de uma família tradicional do Recife. De acordo com advogados, seu patrimônio é avaliado avaliado em R$ 200 milhões.
EXTRADIÇÃO
A demora para a finalização de um tratado de extradição entre Brasil e os Emirados Árabes Unidos pode atrasar o retorno do empresário preso. O documento foi assinado pelos dois países em março de 2019, mas, desde então, tramita na Câmara dos Deputados. Só quando passar pelo Legislativo é que será sancionado pela Presidência da República.
Assim, segundo especialistas, o Brasil deverá recorrer a vias diplomáticas ou a um acordo de princípio de reciprocidade com os Emirados Árabes para obter a extradição.
Se não houver entraves, o processo poderá exigir de três a seis meses para ser concluído. Porém, se surgirem dificuldades pelo caminho, esse tempo poderá passar de um ano, segundo o advogado Rui Aurélio de Lacerda Badaró, integrante da Comissão de Relações Internacionais da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) em São Paulo.
Para Evandro Menezes de Carvalho, professor de direito internacional da FGV Direito Rio, como o caso não envolve crimes políticos e há um pedido de prisão preventiva no Brasil, e com um brasileiro, o processo de extradição pode até ser concluído até o fim deste ano. “São elementos muito fortes”, diz.
Questionado sobre o processo de extradição de Brennand, o Ministério da Justiça e Segurança Pública disse não comentar processos em andamento.