O renomado escritor albanês Ismail Kadaré, autor de uma obra monumental que abordou a tirania comunista de Enver Hoxha, faleceu hoje (1/7) aos 88 anos. A notícia foi anunciada por sua editora e pelo hospital de Tirana à AFP. Kadaré não resistiu a um ataque cardíaco e chegou ao hospital “sem sinais de vida”. Os médicos tentaram reanimá-lo com massagem cardíaca, mas ele veio a óbito por volta das 8h40 (horário local) ou 3h40 (horário de Brasília), segundo o centro médico.
Kadaré, etnógrafo e romancista, transitava entre o grotesco e o épico em sua escrita. Ele explorou os mitos e a história de seu país para desvendar os mecanismos do totalitarismo, um mal universal. A Albânia viveu décadas sob a ditadura de Enver Hoxha, um dos regimes mais fechados do mundo.
Sua obra literária monumental serviu como instrumento de liberdade durante o período de tirania comunista. Traduzida para mais de 40 idiomas, ela revelou as complexidades e os horrores desse regime opressivo.
Em uma de suas últimas entrevistas, Kadaré afirmou: “O inferno comunista, como qualquer outro inferno, é sufocante. Mas na literatura, isso se transforma em uma força vital, ajudando a sobreviver e a enfrentar a ditadura de cabeça erguida.”
Após romper com o regime comunista em Tirana, Kadaré deixou a Albânia em outubro de 1990 e obteve asilo político na França. Sua dissidência ressoou como um trovão, especialmente considerando sua posição como o único escritor a colocar a literatura albanesa no mapa internacional.
Em sua autobiografia e na obra “Primavera Albanesa”, ele expressou sua verdade literária. Nascido em 28 de janeiro de 1936 em Gjirokaster, no sul do país, Ismail Kadaré estudou em Tirana e no Instituto Gorky, em Moscou, mencionando esses anos de aprendizado em “Crepúsculo dos Deuses das Estepes” (1978).