Petista participou de encontro com freis franciscanos em São Paulo
Durante um encontro com freis franciscano, nesta terça-feira, 4, o candidato à Presidência Lula (PT) disse que não gosta de usar religião para fazer política. A reunião ocorreu no Dia de São Francisco, em São Paulo.
“Fui convidado pelo governador de Belém para ir ao Círio de Nazaré, mas decidi não ir”, explicou. “Se eu for, vão dizer que estou indo só porque é um ano de eleição. Gosto de usar minha religião na minha intimidade, não gosto de fazer carnaval.”
O petista ainda relembrou alguns episódios que aconteceram durante o debate presidencial na Globo, como o embate com o Padre Kelmon (PTB). Na ocasião, Kelmon confrontou Lula sobre o apoio dele à ditadura da Nicarágua, comandada por Daniel Ortega, amigo de Lula, que persegue os cristãos.
“Nesse debate eu fui obrigado a falar algumas coisas”, disse. “Em nome de Deus, tive que dizer algumas coisas que quem deveria ter dito era o organizador do debate, e não eu.” O petista acusou Kelmon de “estar fantasiado de padre”.
“Levo minha espiritualidade muito a sério”, explicou o ex-presidente. “Gosto de fazer as coisas com muita verdade dentro de mim. Lula ainda aproveitou a ocasião para tecer elogios ao Papa Francisco, líder da Igreja Católica Apostólica Romana.
“O Papa Francisco tem uma coragem exemplar”, disse. “Ele não tem medo de defender as pessoas pelo que o nome dele representa, nosso querido São Francisco.” Por fim, o petista ainda observou que gosta do segundo turno, pois o povo tem “uma segunda chance”, e comparou o pleito com algumas tradições da igreja. “Na igreja católica tem o batismo e depois tem a crisma, para dar uma chance da pessoa escolher seu próprio padrinho.”
Lula, Nicarágua e religião
O ex-presidente Lula tem evitado comentar a situação da Nicarágua. Em entrevista ao jornal El País em novembro do ano passado, o petista minimizou a ditadura de Ortega. Na fala, ele comparou o tempo em que o ditador e a chanceler alemã Angela Merkel estão no poder, mas afirmou que Ortega errou se mandou prender opositores.
“Temos que defender a autodeterminação dos povos”, disse Lula. “Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?”
Em um discurso durante um evento público em setembro, o ditador da Nicarágua afirmou que a Igreja Católica é uma “ditadura perfeita, uma tirania perfeita”. “Quem elege os sacerdotes? Quem elege os cardeais? Quem elege o papa? É uma ditadura perfeita, uma tirania perfeita!” afirmou Ortega, cujo governo tem feito uma perseguição sistemática a cristãos.
No país, já houve prisões, fechamento de canais de televisão católicos, a expulsão de missionários e a perseguição a padres e bispos. Em março, a Nicarágua expulsou o embaixador do Vaticano.
As perseguições na Nicarágua se intensificaram a partir de 2018. Desde então, a Igreja Católica sofreu mais de 190 ataques no país, segundo relatório do Observatório Anticorrupção e Transparência encaminhado à Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês).
No final de junho, dois canais de televisão católicos, Merced e Canal San José, foram retirados do ar. Outros já tinham sido bloqueados em maio. No fim de agosto, o regime prendeu o bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, e outras sete pessoas — quatro sacerdotes, dois seminaristas e um funcionário da diocese.
Prisões de opositores, perseguição a igrejas e à imprensa marcam a ditadura. Pelo quarto mandato consecutivo, com eleições duvidosas, Ortega luta para controlar as manifestações, que se intensificaram nos últimos quatro anos.
Recentemente, bispos e fiéis cristãos (religião dominante no país) foram presos, e até a CNN local sofreu censura por emitir críticas ao regime extremista.
Revista Oeste