Igo Estrela/Metrópoles
Indícios de movimentações suspeitas das ações da Americanas no mercado foram comunicados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela XP Investimentos e pela Itaú Corretora nos meses que antecederam janeiro de 2023, quando a varejista revelou uma fraude contábil estimada em R$ 25,2 bilhões. Esses relatos integram um inquérito específico aberto pela Polícia Federal (PF) para investigar possível uso de informações privilegiadas (insider trading) na empresa.
Segundo informações da PF, a CVM recebeu um comunicado da XP Investimentos relatando operações atípicas realizadas por um de seus clientes com opções do ativo AMER3 antes da divulgação do Fato Relevante que impactou significativamente o preço das ações.
De maneira semelhante, em 16 de janeiro de 2023, a Itaú Corretora também reportou à CVM uma situação idêntica, apontando indícios de uso de informações privilegiadas em operações com ações da Americanas S.A (AMER1 e AMER3), realizadas ao longo de 2022 por clientes que são diretores ou ex-diretores da empresa. Esse relatório da PF serviu de base para a Operação Disclosure, realizada recentemente.
A PF solicitou à CVM informações sobre o valor líquido da venda de ações por ex-diretores da Americanas no período entre 1º de janeiro de 2022 e a divulgação do Fato Relevante em janeiro de 2023, que revelou as inconsistências contábeis.
Em relação ao ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, a investigação apontou que ele movimentou R$ 171,7 milhões, sendo que até julho de 2022 havia vendido apenas R$ 13,2 milhões. A partir de julho de 2022, com a iminência da troca no cargo de CEO e a descoberta da fraude, Gutierrez realizou vendas de ações que totalizaram R$ 158,5 milhões, o que foi considerado uma movimentação altamente atípica pela PF.
Apesar das investigações, a defesa de Gutierrez negou qualquer participação em fraudes. Procuradas pelo Metrópoles, as áreas de comunicação do Itaú e da XP informaram que as empresas não se pronunciariam sobre o caso.