A ciência já suspeitava que o cérebro realiza uma espécie de “higiene” enquanto dormimos. Essa hipótese, inclusive, é uma das explicações para os sonhos e pesadelos que experimentamos durante a noite. No entanto, até recentemente, os neurologistas não compreendiam completamente como essa intensa atividade de limpeza cerebral ocorre durante o sono.
Dois estudos publicados na revista Nature em fevereiro abordaram esse tema. No primeiro deles, pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, descobriram que ondas cerebrais lentas, geradas pelos impulsos dos neurônios, auxiliam na eliminação de resíduos cerebrais durante o sono. Essas ondas podem ser comparadas à “onda” em um estádio esportivo, transportando as toxinas.
A pesquisa revelou que as células nervosas individuais coordenam-se durante o sono para produzir ondas rítmicas que impulsionam o fluido cerebrospinal através do tecido cerebral, promovendo uma espécie de “lavagem”. É como se fosse o movimento lento de uma máquina de lavar.
Uma veia que percorre o cérebro atua como uma calha, depositando os resíduos para serem transportados através da barreira que separa o cérebro do restante do corpo (a meninge). Esse processo direciona os detritos cerebrais para a corrente sanguínea, onde são tratados pelos rins.
O estudo foi conduzido monitorando o sono de ratos. Com base nas descobertas, os cientistas passaram a investigar como esse sistema funciona em animais com Alzheimer, buscando entender se os problemas na “máquina de lavar” cerebral contribuem para o acúmulo de proteínas tóxicas no órgão, causando declínio cognitivo.
Por que o cérebro afetado pelo Alzheimer não consegue se autolimpar?
Em outro estudo publicado na mesma revista em fevereiro, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) realizaram testes com animais doentes, utilizando ondas sonoras que simulavam o mesmo ritmo dos impulsos neurais. Eles conseguiram reativar os mecanismos de limpeza, removendo as proteínas amiloides do cérebro.
Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é que, à medida que envelhecemos, os neurônios perdem o ritmo adequado de limpeza cerebral, o que pode facilitar o acúmulo de toxinas nos tecidos. Mudanças nos padrões de sono e na qualidade do descanso noturno também podem afetar esse sistema.
A descoberta da frequência ideal para a limpeza cerebral representa um avanço significativo na pesquisa de novos tratamentos para doenças neurodegenerativas. O pesquisador Li-Feng Jiang-Xie, líder do estudo da Universidade de Washington, celebra a possibilidade de retardar ou até mesmo prevenir doenças como Alzheimer e Parkinson, nas quais o excesso de resíduos se acumula.