Cinco policiais militares foram afastados preventivamente devido ao envolvimento na gravação do youtuber norte-americano Gen Kimura, que registrou ações da Polícia Militar (PM) em favelas da Zona Norte de São Paulo. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (26) pelo g1 e pela GloboNews.
Durante a investigação interna da corporação, os agentes da PM cumprirão serviços administrativos para apurar se cometeram alguma irregularidade após o influenciador divulgar um documentário com imagens do trabalho policial em suas redes sociais. Os PMs poderão ser punidos administrativamente.
Entre os PMs afastados, estão um capitão que autorizou a filmagem (mas não aparece no documentário) e outros quatro agentes que aparecem nas imagens. Um desses policiais é um sargento que, no documentário do youtuber, afirmou em inglês que as mortes de criminosos são comemoradas “com charutos e cerveja”.
Veja o vídeo completo abaixo:
Reprodução/YouTube/Gen
A revelação sobre o documentário de Gen Kimura sobre a PM foi feita pela Folha de S.Paulo e posteriormente confirmada pelo g1. A reportagem apurou que o influenciador solicitou a gravação com a PM por e-mail no início de abril, e as filmagens ocorreram em 21 de abril.
A decisão de afastar os agentes da PM partiu da corporação e do governo do Estado de São Paulo, após a repercussão nas redes sociais e na imprensa do documentário que mostra a rotina de trabalho dos policiais militares. As imagens foram veiculadas na página do americano no YouTube.
As imagens divulgadas nas redes sociais de Gen mostram o influenciador acompanhando uma operação da PM dentro de uma viatura, usando colete da corporação, e participando de incursões com os agentes em comunidades da periferia de São Paulo. O americano até manuseia uma arma da Polícia Militar. O vídeo tem cerca de 40 minutos e foi filmado por outro membro da equipe do youtuber.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) considerou que, embora a Polícia Militar tenha autorizado a gravação, o comando da corporação não estava ciente do documentário, tornando a filmagem irregular.
A Polícia Militar não proíbe equipes de reportagem de filmarem operações, mas exige que sejam seguidas várias recomendações, incluindo detalhes sobre como as gravações serão feitas, quais veículos serão utilizados e onde ocorrerão.
A SSP informou, por meio de nota à imprensa, que está apurando a conduta dos policiais militares envolvidos no caso. A frase dita pelo sargento no vídeo, segundo a pasta, não condiz com as práticas adotadas pelas forças de segurança do Estado.
A dinâmica mostrada nas imagens, envolvendo um civil em práticas exclusivamente militares, não é permitida e fará parte das investigações. A SSP solicitou esclarecimentos à Polícia Militar e instaurou uma sindicância para apurar todas as circunstâncias e tomar as providências necessárias.
O comunicado da pasta da Segurança reforça que as polícias paulistas são instruídas e continuamente capacitadas para agir dentro da lei, e que excessos e desvios não são tolerados. Além disso, a dinâmica do vídeo não está de acordo com as regras internas da Corporação.
A reportagem não conseguiu localizar Gen para comentar o assunto. Em seu documentário, o youtuber descreve a forma como os policiais atuam nas periferias da cidade:
“Nós não achamos nada suspeito nas casas em que reviramos, mas isso não os parou [os policiais] de revistar as pessoas. Acho que muitas pessoas nos EUA chamariam isso de ‘profiling’ [busca por pessoas com suposto histórico criminal – metodologia apontada por especialistas como racista e discriminatória], mas nesse caso parece um recurso que eles precisam utilizar, especialmente em um ambiente tão imprevisível, não apenas pela segurança deles, mas para achar mais pistas sobre membros do tráfico. Como veremos adiante, eles foram certeiros no ‘profiling’ deles.”
Gen também gravou parte do trabalho da Polícia Civil e da Polícia Técnico-Científica. Ele exibiu trechos dos documentários que pretende disponibilizar sobre essas outras duas instituições. A reportagem apurou que a Secretaria da Segurança Pública autorizou o youtuber a gravar com elas.
“A Secretaria da Segurança Pública esclarece que não houve acompanhamento das atividades diárias de policiamento na Polícia Civil e na Superintendência da Polícia Técnico-Científica pela equipe do canal do Youtube. Os policiais foram autorizados e concederam entrevistas ao programa, assim como regularmente fazem a outras produções nacionais e internacionais. No caso específico da SPTC, foi realizada uma simulação de acidente de trânsito com um manequim para demonstrar as técnicas e tecnologias empregadas no trabalho pericial”, informa nota divulgada pela SSP.
Procurado para comentar o assunto, o ouvidor da Polícia, Claudio Silva, afirmou ao g1 que irá pedir também que a Corregedoria da Polícia Civil apure se ocorreram irregularidades nas gravações feitas com a Polícia Civil e com a Polícia Técnico-Científica.
“Estamos acionando também o Ministério Público [MP] para ver se não é o caso de ação judicial de improbidade administrativa. A Ouvidoria da Polícia está acompanhando, pois, as irregularidades são absurdas”, falou Claudio à reportagem. “Comemorar a morte de alguém não é correto.”
“As comunidades patrulhadas são apresentadas como locais onde “as piores atrocidades acontecem” e onde todos são potenciais criminosos. Moradores são mostrados sem autorização, sendo até ridicularizados em um momento. Diversas ações inadequadas da polícia são capturadas, como abrir portas, entrar em barracos sem autorização e apontar armas para pessoas, inclusive crianças, que são mostradas em vídeo, contrariando o Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse em entrevista à GloboNews.
Com informações de g1