Os dois principais nomes da terceira via, Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), tiveram juntos pouco mais de 7% dos votos na eleição de ontem — um desempenho abaixo do que previam os principais institutos de pesquisa. Simone terminou com pouco mais de 4% dos votos, a votação mais baixa de um 3º colocado desde a redemocratização.
Simone votou em Campo Grande (MS) e acompanhou a apuração em São Paulo. Ciro passou o dia em Fortaleza. Nenhum dos dois anunciou ontem apoio a ninguém no segundo turno, mas não descartaram a possibilidade. Ontem à noite, Ciro comentou brevemente os resultados e pediu mais algumas horas para consultar aliados antes de decidir os próximos passos.
“Estou profundamente preocupado com o que estou assistindo no Brasil. Nunca vi situação tão complexa, desafiadora e ameaçadora sobre nós como nação. Peço mais algumas horas para que me deixem conversar com meus amigos, com meu partido, para que a gente possa achar o melhor caminho”, disse.
Simone fez uma campanha crítica, mas não fechou as portas para um novo aceno a Lula. No segundo turno, há relatos de conversas entre aliados com representantes da campanha petista. Alguns falam inclusive em obter apoio dela em troca de algum ministério. Parte dos representantes do MDB, no entanto, especialmente a ala do Nordeste, já se põe como eventual aliada de Lula.
Negociações
Inicialmente, de acordo com relatos da campanha de Simone, ela teria recusado qualquer aproximação, por temer que o gesto pudesse ter impacto em seu eleitorado e favorecesse o voto útil no primeiro turno. Com o tempo, porém, ela abriu a guarda e já estaria disposta a conversar sobre uma possível participação no governo de Lula ou conceder apoio no segundo turno.
Simone e Ciro tiveram trajetórias opostas. Durante a campanha, a senadora cresceu nos debates, mas não conseguiu romper a polarização entre os dois favoritos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A posição centrista, no entanto, põe Tebet como uma possível peça-chave para o segundo turno das eleições.
Já Ciro saiu menor do que entrou. Em sua quarta tentativa de chegar ao Palácio do Planalto, desta vez pelo PDT, ele radicalizou o discurso e perdeu prestígio e apoio dentro do próprio partido e no estado em que tem sua base, o Ceará, onde brigou até com sua família.
Como consequência, amargou uma votação bem inferior à de quatro anos atrás na eleição que, segundo ele, marca sua despedida da política — ele teve pouco mais de 12% dos votos em 2018, ficando em 3º lugar, atrás de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro.
Desta vez, o candidato do PDT ficou atrás até mesmo de Simone, que não era tão conhecida nacionalmente no início da campanha, embora tenha tido participação contundente na CPI da Covid, mas soube aproveitar melhor os debates eleitorais na TV.
O encolhimento é consequência do isolamento de Ciro. A radicalização do discurso, à medida que a campanha avançava e ele se via cada vez mais espremido pela polarização entre Bolsonaro e Lula, não trouxe resultados para ele.
De nada adiantou, por exemplo, ele subir o tom contra Lula nem sua tentativa de seduzir parte do eleitorado que se inclinava a votar em Bolsonaro. Sua cruzada contra o voto útil no petista, nas últimas semanas, também não lhe trouxe benefícios. Ao contrário, foi mais um motivo de desgaste.
Voto nulo
O candidato pelo Novo, Felipe D’Avila, que obteve menos de 0,5% dos votos, ressaltou ontem que o resultado das urnas indica o derretimento do centro político no Brasil. Para ele, o voto útil migrou para os extremos. “O centro, que poderia surgir como uma alternativa ou uma força moderadora, não vai ocorrer”, afirmou.
De acordo com D’Avila, o momento é de “reconstrução”. “O Novo, como os demais partidos do centro, sofreu nesta eleição. Isso significa que vamos ter de trabalhar para fazer oposição ao populismo”, afirmou. Ele e o Novo, segundo o candidato, não apoiarão ninguém no segundo turno. D’Avila disse ontem que pretende anular seu voto.
Créditos: R7.