O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está em negociações avançadas com os Estados Unidos para uma colaboração inovadora na transição energética, em vista de um potencial segundo mandato do democrata Joe Biden na presidência dos EUA.
No Palácio do Planalto, as eleições americanas são monitoradas de perto, com a mais recente pesquisa da Fox News indicando uma vantagem de dois pontos percentuais para Biden sobre o republicano Donald Trump.
Caso Biden vença, há expectativas de que ele participe da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, em 18 e 19 de novembro, apenas duas semanas após as eleições nos EUA.
Os dois governos já trocaram documentos preliminares para anunciar uma parceria entre Brasil e Estados Unidos focada em investimentos na transição energética, que poderá ser um novo motor das relações bilaterais nos próximos anos.
Um dos principais objetivos dessa parceria é o desenvolvimento conjunto de minerais críticos, como lítio, níquel, cobalto, nióbio, grafite e silício. Esses minerais são essenciais para a produção de baterias, semicondutores, veículos elétricos, painéis solares e turbinas eólicas.
Os Estados Unidos buscam assegurar um suprimento confiável desses minerais, enquanto o Brasil deseja atrair investimentos para não se limitar à exportação da matéria-prima, mas também realizar o beneficiamento local, agregando maior valor aos produtos.
No entanto, o lançamento da parceria está condicionado à reeleição de Biden. O governo brasileiro teme que um eventual retorno de Trump resulte em retrocessos nas políticas ambientais e na transição energética.
Um dos principais receios do governo brasileiro é uma possível retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, como ocorreu durante o primeiro mandato de Trump, e uma redução do envolvimento americano na COP 30, marcada para 2025 em Belém.
Assessores próximos a Lula confiam na robustez das relações empresariais entre Brasil e Estados Unidos para mitigar os impactos de uma possível vitória de Trump. No entanto, reconhecem que o diálogo entre os governos poderia ser, na melhor das hipóteses, “frio”.
Eles consideram improvável que Lula e Trump desenvolvam uma relação pessoal tão positiva quanto a que Lula teve com George W. Bush nos anos 2000, apesar das diferenças ideológicas. Naquela época, estabeleceram parcerias na área de biocombustíveis.
Desta vez, no entanto, avalia-se no Planalto que o cenário é muito distinto. No Brasil, teme-se que uma vitória de Trump seja usada pelo bolsonarismo para reforçar a direita e enfraquecer as agendas progressistas.
Em termos geopolíticos, o governo brasileiro afirma que não se submeterá à abordagem de Trump de “escolha” entre Estados Unidos e China como parceiro preferencial. Lula e o Itamaraty seguem uma linha estratégica de manter boas relações com ambos, sem precisar fazer essa escolha explícita.