Depois de ter declarado voto em Lula nas Eleições 2022, Edmar Bacha, um dos integrantes da equipe responsável pela implementação do Plano Real e figura destacada nos debates econômicos brasileiros nas últimas décadas, expressa preocupação com a situação fiscal atual do país. Ele enfatiza a necessidade de focar não apenas em receitas, mas também em despesas para resolver a questão fiscal.
Bacha defende uma “volta às origens do Plano Real”, propondo a desvinculação de despesas, citando o antigo Fundo Social de Emergência, que posteriormente se transformou na Desvinculação de Receitas da União (DRU). Além disso, o economista critica o Partido dos Trabalhadores (PT) e destaca os desafios enfrentados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Em entrevista ao Valor, Becha respondeu:
“Acho que estamos entre 2% e 3% [de previsão de crescimento]. O Brasil tem situação muito favorável. O Brasil está pronto para decolar, é o Lula que não deixa. Se o Lula parasse de brigar com o Banco Central, se o Lula se entendesse positivamente com o Centrão, se dispusesse a dividir poder, efetivamente, em vez de seguir com essa política maluca de emendas parlamentares obrigatórias, se pudesse criar um clima mais ameno na relação entre o Executivo e o Legislativo… o país está pronto para crescer. Mas há também questões estruturais.”
Apesar de reconhecer o aumento dos investimentos no primeiro trimestre como uma notícia positiva, Bacha ressalta que a turbulência fiscal gera incerteza entre os investidores. Quanto ao dólar, ele prevê que a moeda americana tende a recuar devido às atuais condições favoráveis da balança comercial, incluindo setores como agropecuária, mineração e petróleo. No entanto, ele evita fazer previsões, lembrando que “Papai do Céu não perdoa economista que faz previsão de dólar”.
Bacha também critica a falta de articulação do governo com o Banco Central e o Congresso Nacional. Ele acredita que o Brasil está pronto para crescer, mas aponta que a postura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um obstáculo. Segundo Bacha, se Lula parasse de confrontar o Banco Central e estabelecesse uma relação mais positiva com o Centrão, o país poderia avançar.
Quanto à política monetária, Bacha cita uma frase do economista Dionísio Dias Carneiro: “O Banco Central deve ser o primeiro dos pessimistas e o último dos otimistas”. Ele elogia a atual abordagem da autoridade monetária, que busca manter a estabilidade diante das expectativas cambiantes.
Por fim, Bacha destaca o aniversário de 30 anos do Plano Real como um marco significativo. Ele observa que a estabilidade conquistada é duradoura e menciona o lançamento do livro “30 anos do Real: crônicas no calor do momento”, escrito por Gustavo Franco, Pedro Malan e Edmar Bacha, que reúne reflexões sobre o plano em diferentes momentos de sua história.