Durante uma entrevista concedida à CBN nesta terça-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abordou novamente o tema do aborto no Brasil, enfatizando a condição de crianças e adolescentes que se tornam grávidas em decorrência de violência sexual.
Lula expressou ser pessoalmente contra o aborto, mas contestou a noção de que vítimas de estupro sejam forçadas a prosseguir com gestações resultantes do abuso. Ele também criticou o projeto de lei do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que sugere igualar a penalidade do aborto ao homicídio simples.
“Que monstro que vai sair do ventre dessa menina?”
— O Antagonista (@o_antagonista) June 18, 2024
Lula, ao afetar repúdio pelo projeto de lei que teve urgência aprovada com ajuda do governo, desumanizou o feto resultante do estupro.
Para ele, filho de monstro, monstrinho é. pic.twitter.com/aZTwx3pz2P
“Esse negócio de ficar discutindo aborto legal. Quem está abortando, na verdade, são meninas de 12, 13, 14 anos. É crime hediondo um cidadão estuprar uma menina de 10, 12 anos, e depois querer que ela tenha um filho. Um filho de um monstro”, disse Lula.
O presidente pediu uma discussão civilizada sobre o assunto, destacando que as violações ocorrem dentro das próprias casas das vítimas. “Então é preciso de forma civilizada a gente discutir. As crianças estão sendo violentadas dentro de casa. Esse debate é um debate maduro que envolve a sociedade. Temos que respeitar as mulheres. Elas têm o direito de ter um comportamento diferente e não querer. Por que uma menina é obrigada a ter um filho de um cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dessa menina?”, acrescentou.
Lula também comentou sobre o projeto de lei 1.904/24, cuja urgência foi aprovada na Câmara dos Deputados e que visa aumentar a pena para o crime de aborto.
“O autor do projeto disse que o fez para testar o Lula. Não preciso ser testado. Quem precisa é ele. Gostaria de saber como ele reagiria se fosse sua filha a ser estuprada”, declarou Lula na entrevista.
“Eu sou contra o aborto, deixando isso bem claro. Mas como chefe de Estado, tenho que tratar o aborto como uma questão de saúde pública. Não podemos permitir que mulheres ricas façam abortos seguros no exterior enquanto outras morrem em casa tentando interromper a gravidez com métodos perigosos”, concluiu.
A reportagem também entrou em contato com o deputado Sóstenes Cavalcante para comentar as críticas do presidente e aguarda uma resposta.
A primeira vez que o presidente se manifestou sobre este tema foi durante uma viagem à Itália no último sábado (15), onde ele descreveu como “insanidade” a ideia de que uma mulher estuprada pudesse receber uma pena maior do que seu agressor, considerando uma possível aprovação do projeto em questão.
“Acho que é insanidade alguém querer punir uma mulher numa pena maior que o criminoso que fez o estupro. É, no mínimo, uma insanidade”, disse Lula em entrevista a jornalistas. “Quando alguém apresenta uma proposta que a vítima tem que ser punida com mais rigor do que o estuprador, sinceramente, não é sério.”