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Um documento interno da Santa Casa em Portugal, obtido por um jornal português, revela que a administradora de lotéricas e casas de apostas foi extorquida por uma organização criminosa brasileira e tem uma “dívida decorrente da operação em São Paulo”.
Segundo o jornal Expresso e a revista Piauí, diretores da Santa Casa foram confrontados sobre a necessidade de resolver a dívida com o grupo criminoso. Um representante da Santa Casa solicitou que um funcionário no Brasil registrasse o problema em um e-mail, para que chegasse ao topo da cadeia de comando em Lisboa, mas o pedido não foi adiante.
De acordo com a reportagem, desde fevereiro de 2021, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tentava ganhar a licitação para conceder à iniciativa privada a operação da loteria estadual paulista. A Santa Casa estimou uma receita bruta anual de R$ 2 bilhões, caso fosse contratada em São Paulo sob regime de exclusividade, conforme a Piauí.
Entretanto, meses depois, o Tribunal de Contas suspendeu a licitação devido a falhas que prejudicaram a concorrência, e posteriormente o governo de São Paulo cancelou o processo. As operações da Santa Casa no Brasil, então, se limitaram ao Santa Casa Capitalização, um título de capitalização em São Paulo muito menos rentável do que o projeto inicial da loteria. Foi dessa operação que surgiu a dívida de R$ 200 mil revelada pelo Expresso e pela Piauí.
O Expresso menciona ainda uma auditoria interna sobre as atividades da Santa Casa Global, subsidiária criada para concentrar todos os investimentos internacionais da SCML, que não menciona qualquer dívida financeira com o PCC. No entanto, a então gestora da operação no Brasil, Ana Jorge, teria denunciado ao Ministério Público português um conjunto de irregularidades.
Ainda em fase inicial de auditoria, Ana Jorge enviou documentos para a Procuradoria-Geral da República, para o Tribunal de Contas e para a ministra do Trabalho e da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que tinha a tutela da Santa Casa.
O lucro do PCC atualmente vem principalmente do tráfico internacional de entorpecentes, que responde por 80% do faturamento estimado em pelo menos US$ 1 bilhão ao ano. A facção expandiu suas operações para além de São Paulo, estando presente em diversos estados brasileiros e com mais de mil representantes no exterior, estabelecendo conexões com grupos mafiosos como o clã Šaric, da Sérvia, e a ‘Ndrangheta, da Calábria, na Itália.