VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL – 08.03.2022
O dólar voltou a subir no mercado à vista na manhã desta quarta-feira (12), sendo cotado a R$ 5,43, o que representa um aumento de 1,29%. Esse é o valor mais alto em 18 meses, desde que a moeda americana atingiu R$ 5,47 em 4 de janeiro de 2023. Às 13h40, o dólar estava sendo negociado a R$ 5,38, com alta de 0,41%.
O Ibovespa iniciou o dia em alta, mas depois caiu e chegou à mínima do ano, abaixo de 120 mil pontos.
A alta do dólar e a queda da Bolsa ocorrem em meio ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que destacou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”.
O governo federal enfrenta pressão para reduzir gastos em um momento de dificuldade para aumentar a arrecadação. Na noite da terça-feira (11), o Senado Federal devolveu a Medida Provisória (MP) que restringia a compensação de créditos do PIS/Cofins em contrapartida à perda de arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos, medida que poderia aumentar a receita federal em R$ 29,2 bilhões.
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira, caiu para o mesmo nível visto em 13 de novembro do ano passado, atingindo a mínima de 119.878,23 pontos por volta das 12h30, refletindo as crescentes preocupações fiscais.
Elson Gusmão, diretor de câmbio da corretora Ourominas, avalia que além da incerteza sobre a política de juros do Federal Reserve (Fed) dos EUA, o ruído político envolvendo o governo e o Senado reforça a cautela local com o quadro fiscal, diante da incerteza sobre as fontes de compensação para manter a desoneração da folha de pagamentos para empresas de 17 setores e municípios menores.
A cotação do dólar vem subindo há algum tempo, um movimento que se intensificou nos últimos pregões. Segundo Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, o real é a terceira moeda mais desvalorizada frente ao dólar este ano. Em 2024, o dólar acumula uma alta de 11,38% em relação ao real brasileiro, com apenas o peso argentino e o iene japonês apresentando desvalorizações maiores.
Esse movimento de valorização ao longo do ano reflete a busca dos investidores por proteção em meio às incertezas sobre o início do ciclo de corte de juros nos EUA, e nas últimas semanas o risco fiscal doméstico tem impulsionado ainda mais a alta do dólar.
Gradualmente, o mercado está abandonando a expectativa de que o câmbio encerre o ano na faixa dos R$ 5, como previsto inicialmente pelo Boletim Focus no início de 2024. A edição mais recente do boletim, publicada na segunda-feira (10), prevê uma taxa de R$ 5,05 para o final do ano, mas há analistas ainda mais pessimistas.