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A batata está assando, e cada vez mais literalmente. O impacto das mudanças climáticas está fazendo com que nosso planeta se assemelhe cada vez mais a um verdadeiro forno, e uma nova pesquisa revela o motivo: a atmosfera está retendo mais do que o dobro do excesso de calor hoje do que retinha em 1993.
O estudo foi publicado no jornal Earth System Science Data e faz parte do Indicadores de Mudança Climática Global, um relatório anual que atualiza e compila diversas informações e estudos sobre as mudanças climáticas no planeta, similar ao IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. O último relatório, publicado no ano passado, contou com a participação de mais de 50 cientistas.
De acordo com o estudo, o excesso de calor na atmosfera é causado pelo desequilíbrio energético do planeta – isto é, pela quantidade de energia que entra no planeta a partir do Sol e a quantidade que sai. Karina von Schuckmann, pesquisadora na organização Mercator Ocean International e uma das autoras do estudo, explica: “A Terra está fora de equilíbrio energético, o que se deve ao efeito estufa. Há menos energia deixando o sistema”, disse em entrevista à New Scientist.
A emissão de gases de efeito estufa está tornando a atmosfera cada vez mais obstruída. Assim, a energia do Sol consegue entrar, mas não consegue sair, e grande parte dessa energia está na forma de calor.
A pesquisa mostrou que o desequilíbrio energético do planeta foi de cerca de 0,42 watts por metro quadrado (w/m²) entre 1974 e 1993. Mas de lá para cá, a situação só se agravou. De 2004 até o ano passado (2023), esse número dobrou, atingindo 0,87 w/m².
Para aqueles que gostam de um clima mais quente, isso pode até parecer algo positivo, mas na prática, pode causar grandes problemas para diversos outros aspectos do planeta.
“O desequilíbrio energético da Terra não é apenas uma espécie de quantidade esotérica que os cientistas gostam de observar. Tem implicações no mundo real”, explica Norman Loeb, pesquisador do Centro de Pesquisa Langley da NASA, em Virgínia, nos EUA.
Esse excesso de calor afeta principalmente os oceanos, que absorvem 90% desse excesso. Em fevereiro deste ano, por exemplo, os oceanos registraram o recorde de temperatura mais quente em sua superfície, com uma média de 21,06º Celsius. Segundo a UNESCO, 2023 foi o ano mais quente na história dos oceanos.
O excesso de calor nas águas acarreta um efeito dominó significativo. O calor adicional que aquece o oceano diminui sua capacidade de capturar o CO2 do ar, o que impulsiona o aumento do nível do mar.
Esse processo afeta diretamente a vida marinha, como evidenciado pelo branqueamento de corais. Além disso, há mudanças nos níveis de oxigênio dos oceanos, na química marinha e nas alterações das correntes marítimas.