foto: Carlos Moura
Um evento liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), focado no auxílio às vítimas de enchentes no Rio Grande do Sul, chamou a atenção pela presença dos irmãos Joesley e Wesley Batista, figuras centrais no escândalo da Lava Jato. O jornal britânico Financial Times sugeriu que essa presença pode indicar um possível desgaste do legado da operação.
Em um texto publicado nesta quinta-feira (6 de junho de 2024), o Financial Times abordou o papel do ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), nas recentes controvérsias envolvendo a Lava Jato. A reportagem destacou ações de Toffoli que resultaram na reversão de condenações e na anulação de multas em casos notórios de corrupção.
“Para muitos, o retorno público dos irmãos Batista destaca como o legado da longa investigação da Lava Jato está sendo desmantelado desde o retorno de Lula à presidência para seu terceiro mandato não consecutivo”, afirma a reportagem do jornal.
Desde o início do terceiro mandato de Lula, decisões como a anulação das condenações de Marcelo Odebrecht e José Dirceu têm sido vistas como um retrocesso. O Financial Times diz que o gabinete de Toffoli defendeu as decisões, afirmando que estavam “baseadas na Constituição e nas leis do país” e seguiam precedentes do tribunal de 2022. Toffoli, ministro desde 2009 e podendo ficar na Corte até 2042, criticou o que considera um conluio na Lava Jato que impediu o devido processo legal.
“Grande parte do trabalho para desfazer os resultados da investigação — que recuperou bilhões de dólares de empresas envolvidas — está nas mãos do Supremo Tribunal Federal e, em particular, do ministro José Antonio Dias Toffoli”, continuou o Financial Times.
A publicação também destacou a percepção pública negativa em relação a Toffoli e ao STF, citando uma pesquisa da AtlasIntel que revelou desaprovação às suas decisões relacionadas à Lava Jato. A queda do Brasil no Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional, agora no 104º lugar entre 180 países, foi outro ponto levantado pelo jornal.
Para Thomas Traumann, ex-ministro e articulista do Poder360, o que Toffoli está fazendo é “basicamente tentar apagar todas as partes boas” da operação Lava Jato. “Durante os últimos 10 anos, não há dúvida de que tanto o estado brasileiro quanto as empresas privadas melhoraram sua conformidade. Mas o que Toffoli está dizendo é: ‘Você não precisa se preocupar [com ser processado por corrupção] porque em 10 anos o sistema de justiça simplesmente vai deixar passar’.”
O Financial Times também relatou que o STF pagou R$ 39 mil em diárias internacionais para o segurança de Toffoli durante sua viagem ao Reino Unido, de 25 de maio a 3 de junho. A viagem incluiu a ida do ministro à final da Champions League, realizada em 1º de junho, onde o Real Madrid conquistou seu 15º título.
O STF não forneceu detalhes sobre a viagem, mas enfatizou que as atividades do ministro não foram interrompidas, assegurando que Toffoli manteve seu ritmo de trabalho e participou de uma sessão do STF remotamente em 29 de maio.
Os detalhes financeiros da viagem foram obtidos por meio de uma ordem bancária emitida em 27 de maio, acessada nos dados do SiaFi (Sistema Integrado de Administração Financeira). A revelação de que Toffoli foi ao jogo foi inicialmente dada pelo jornal O Globo.
À Folha de S.Paulo, o STF disse que “em nenhuma viagem o ministro recebeu passagens ou diárias” do tribunal. O STF também ressaltou a importância da segurança dos ministros, justificando que eles recebem proteção tanto em agendas institucionais quanto pessoais, devido aos riscos associados às suas funções.