Um estudo apresentado na ENDO 2024, a reunião anual da Endocrine Society em Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos, revelou que a semaglutida, um componente presente em medicamentos para o tratamento do diabetes e da obesidade, pode ter efeitos na sensibilidade gustativa e na resposta cerebral aos sabores doces.
A pesquisa, liderada por Mojca Jensterle Sever, Ph.D., do Centro Médico Universitário de Ljubljana, na Eslovênia, investigou o impacto da semaglutida na percepção do paladar. Para isso, os pesquisadores selecionaram aleatoriamente uma amostra de 30 mulheres com índice de massa corporal (IMC) médio de 36,4. Essas mulheres receberam 1 mg do medicamento ou um placebo.
As descobertas baseiam-se em estudos preliminares em animais, que indicam que a administração central de medicamentos receptores do GLP-1 (classe à qual a semaglutida pertence) afeta a aversão ao sabor doce.
Durante 16 semanas, os pesquisadores avaliaram a sensibilidade do paladar das participantes usando tiras com diferentes concentrações de quatro sabores. Além disso, por meio de ressonância magnética, mediram as respostas cerebrais após a exposição a soluções doces. Também realizaram biópsias da língua para avaliar a expressão do RNA mensageiro (mRNA).
As mulheres que receberam semaglutida apresentaram mudanças na percepção do paladar, na expressão genética das papilas gustativas e na atividade cerebral em resposta a estímulos doces. Os genes EYA, PRMT8, CRLF1 e CYP1B1, que mostraram expressão diferencial de mRNA, estão relacionados às vias gustativas, à plasticidade neural e à renovação das papilas gustativas na língua.
Segundo Sever, a classe terapêutica da semaglutida, amplamente utilizada no tratamento da diabetes e da obesidade, pode ter novos efeitos interessantes. Os médicos provavelmente correlacionarão essas descobertas com relatos de pacientes sobre mudanças no desejo por certos alimentos, indo além das alterações gerais no apetite e na saciedade associadas à perda de peso.
Apesar dos resultados promissores, a pesquisadora ressalta que o estudo tem limitações. A avaliação de apenas um gosto específico em um ambiente de pesquisa pode não refletir a experiência cotidiana, e a percepção do sabor varia significativamente entre as pessoas. Além disso, o sequenciamento de mRNA possui limitações inerentes e não reflete diretamente as alterações nos níveis ou atividade das proteínas.
Estudos futuros esclarecerão se a eficácia da semaglutida no tratamento da obesidade também está relacionada a mudanças no paladar.