Suspeitas se intensificaram quando, na semana passada, internautas duvidaram da existência de uma coordenadora
Nos últimos meses, posts de um suposto projeto social que distribui marmitas e cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade social e de rua vinham deixando muita gente com a pulga atrás da orelha. As suspeitas se intensificaram quando, na semana passada, os internautas começaram a duvidar da existência de uma das coordenadoras do projeto de Blumenau (SC), chamado Alimentando Necessidades.
Os posts que discutem os desdobramentos do assunto são acompanhados da hashtag #marmitagate.
A Polícia Civil de Santa Catarina informou que “está realizando a devida apuração a respeito e diligências para elucidar a situação estão sendo efetuadas”. Desde a terça-feira, já havia relatos de pessoas registrando boletins de ocorrência.
“BO registrado e aconselho a todos que doaram ao projeto @alimentando_n façam o mesmo. Independente do seu estado, a ocorrência deve ser registrada em SC”, diz um post que mostra o print do boletim de ocorrência feito junto à Delegacia Virtual.
A ação seria encabeçada por duas jovens, Duda Poleza e Taynara Motta. Com relatos sobre o dia a dia do projeto, que diziam alimentar cerca de 26 pessoas, elas pediam doações via Pix nas redes sociais para a compra de alimentos e insumos.
No mês de setembro, três postagens das meninas relatando problemas viralizaram, ao mesmo tempo que, segundo os comentários, elas não respondiam a ofertas de ajuda e mesmo a tentativas de contato de um jornal local, interessado em divulgar o projeto.
No dia 12 de setembro, Taynara postou um relato de estupro para anunciar que se afastaria das redes sociais da iniciativa por um tempo. No dia 15, Duda compartilhou um print em que um homem pedia fotos dela nua em troca de doação para o Alimentando Necessidades.
Uma semana depois, divulgou um print de um diálogo com uma ex-colega que a teria procurado para doar uma embalagem de carne moída vencida há um mês. As três publicações passaram dos 100 mil likes e 9 mil retuítes e, em todas elas, a chave Pix do projeto era divulgada no fim.
Os relatos e o fato de que o perfil no Twitter de Taynara não tinha nenhuma informação sobre ela mesma, aparecia apenas como divulgadora do projeto e interagia principalmente com o perfil de Duda Poleza deram força para a hipótese de que ela não seria uma pessoa real. Um grupo de pesquisa em OpenSource averiguou que Taynara não existia em outras redes sociais e, em consulta a uma base de dados estadual, não encontrou ninguém com o mesmo nome na região.
Em seguida, concluíram que a foto do perfil dela era retirada de um perfil no Pinterest e que as únicas fotos em que há o registro de marmitas sendo entregues foram tiradas em Pomerode, uma cidade próxima de Blumenau, em frente ao restaurante do padrasto de Duda Poleza, que vende marmitas.
Quem acompanhava o desenrolar do assunto pediu para que elas gravassem vídeos se apresentando. Os vídeos foram postados no dia 25 e o de Taynara, carregado de filtros, mostrava que ela era muito parecida com Duda. Quando o pitch do áudio era ajustado, a voz dela também ficava muito semelhante. Ele foi apagado e Duda anunciou que faria uma transmissão ao vivo no dia seguinte. Na live, Taynara não apareceu, e a amiga não soube informar onde ela estaria.
Internautas juntam “provas”
Nos últimos dois dias, tuítes que buscam desmascarar a história cresceram e o assunto figura agora entre os trending topics da rede social. Os posts apontam inconsistências no discurso de Duda Poleza e levantam dúvidas sobre se o projeto é real ou não.
Entre os desdobramentos, está o perfil de uma suposta pessoa em situação de rua usando uma foto retirada de um meme e afirmando que o projeto teria salvado sua vida; além da identificação do autor da foto que aparece no print em que um homem pede nudes em troca de doação para o projeto. A foto teria sido postada na rede social por ele mesmo para uma competição virtual chamada Pinto Awards, e Duda passou a ser acusada de forjar o print.
Muitos doadores do projeto se manifestaram com decepção e arrependimento, postando comprovantes do quanto teriam doado. Outras pessoas lamentam o impacto que um projeto social falso pode ter na imagem desse tipo de ação: “Tira a credibilidade de quem tá realmente fazendo algo bom”, diz um comentário.
Para evitar cair em golpes ao doar para uma causa, é importante buscar informações sobre a pessoa ou a instituição em questão, checando o CNPJ ou informações pessoais (como e-mail, por exemplo). Pesquise na internet se já foram publicadas notícias ou denúncias sobre o projeto para o qual você pretende dar dinheiro e se quem recebe as doações presta contas de forma transparente e mostra os resultados das ações.
No que prestar atenção na hora de doar para um projeto social
– Há quanto tempo o projeto existe;
– Se existem registros no Reclame Aqui sobre a organização;
– Se as informações e fotos que explicam o motivo do pedido por doações são explicativas (desconfie de histórias genéricas, fotos repetidas ou que não mostrem muito sobre o projeto);
– Se as ações feitas com o dinheiro doado são frequentemente compartilhadas com o público em geral.