Os carros chineses, apesar de serem bem mais baratos que modelos similares de marcas tradicionais, têm preços muito mais elevados fora da China do que em seu país de origem. Uma reportagem da Reuters destaca essa discrepância. Por exemplo, os modelos da BYD têm preços que variam entre 30% e 178% mais altos do que na China, chegando a custar quase o triplo.
No Brasil, a dupla de modelos mais conhecida é o Dolphin e o Dolphin Mini (este último chamado de Seagull no exterior). O Dolphin Mini, vendido na China por menos de R$ 50.000, aqui custa R$ 115.000, representando um aumento de 130% em relação ao preço local.
O objetivo da BYD, segundo a Reuters, é buscar lucros maiores no exterior, já que a competição na China é intensa. O Dolphin, irmão maior do Dolphin Mini, custa cerca de R$ 149.800 no Brasil, enquanto na China sai por aproximadamente R$ 84.000, resultando em um aumento de preços de 78% no mercado brasileiro. Na Europa, a situação é ainda pior, com o mesmo modelo custando cerca de R$ 190.000 na Alemanha.
Parte desse aumento de preços no Brasil se deve aos impostos de importação, que voltaram a ser cobrados em 2024 para carros elétricos importados de outros países. No entanto, o preço final é sempre determinado pelo valor que o mercado está disposto a pagar.
Imagine os lucros da BYD ao vender o Dolphin por R$ 150.000 em 2023, sem pagar impostos de importação. Isso nos faz entender que R$ 50.000 por um Dolphin Mini ou R$ 84.000 por um Dolphin seria “deixar muito dinheiro na mesa”.
Um crossover compacto elétrico da BYD, chamado Atto 3, custa 19.200 dólares na China, mas na Alemanha é vendido por 42.700 dólares, ainda sendo competitivo em relação a outros elétricos no mercado.
Essas margens de lucro expressivas da BYD nos mercados fora da China são raras. Elas também destacam as vantagens competitivas que a China possui na venda de carros elétricos. O país conseguiu reduzir custos em todas as etapas de produção, desde materiais brutos até baterias, mão de obra e terrenos para construir fábricas. Mais de um terço das vendas de carros na China já são de veículos elétricos.
Em 2024, nada menos que 110 novos modelos elétricos serão lançados na China, a maioria deles de marcas chinesas. Os lucros substanciais da BYD permitem que a empresa reduza parte desses lucros em alguns países, buscando conquistar uma fatia maior do mercado.
No entanto, no Brasil, ainda não podemos esperar que a BYD ofereça preços tão competitivos quanto na China. A qualidade dos modelos pode não ser excelente, mas é melhor do que a impressão negativa que tínhamos há 10 ou 15 anos, quando tudo da China era visto como de qualidade extremamente baixa.